O GLOBO, n 32.324, 05/02/2022. Política, p. 11

Deputada recebe ameaças de morte e estupro em SP
Rodrigo Castro


Mensagens enviadas a Isa Penna (PSOL) incluiam comentários racistas e homofóbicos. Parlamentar pediu proteção à Alesp

E-mails enviados à deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP), ameaçada de estupro e de morte, apresentam uma série de comentários racistas e homofóbicos, além de descreverem que ela seria golpeada no crânio com um “martelo ordinário” e teria a cabeça cortada. Nas mensagens, às quais o GLOBO teve acesso, o agressor atemoriza a parlamentar caso “continue fazendo críticas ao governo Bolsonaro” e exibe o endereço de seus pais como forma de intimidá-la. E ainda há menções a expressões usadas por grupos neonazistas e em fóruns da deep web — conjunto de redes oculto ao grande público.

Isa expôs ontem que foi vítima novamente de ameaças que atingiam também seus familiares, cujos endereços foram divulgados. A deputada, que registrou uma queixa-crime no último dia 27 após receber um e-mail em que era ameaçada de estupro e morte, atualizou a ocorrência esta semana. A parlamentar ainda reforçou sua segurança, incluindo um pedido de escolta e suspensão de agendas públicas por ora.

No primeiro e-mail, encaminhado a Isa em 27 de janeiro, o autor relata uma possível cena em que abusaria sexualmente da parlamentar e a mataria na sequência. Com palavras de baixo calão, ele diz ainda que vai “cortar sua cabeça fora”. A descrição foi publicada também no Blog da Reich, termo usado pela Alemanha nazista, com o título “Isa Penna é uma vagabunda”. 

“Supondo que eu a encontrasse caminhando na rua à noite, golpearia seu crânio com um martelo ordinário. Ela teria uma convulsão no mesmo momento, seu corpo não aguentaria a pressão e desabaria”, diz a mensagem.

FRASES RACISTAS

Em outro e-mail, de 31 de janeiro, o agressor afirma que a deputada “vai pagar por tudo o que tem feito” e alerta para que ela “prepare-se para o pior”. O texto ataca a parlamentar com frases racistas e homofóbicas, referindo-se a ela como negra e LGBT e “por isso será sempre alvo de nosso ódio”. 

“Caso você continue fazendo críticas ao governo Bolsonaro, iremos te ameaçar”, diz trecho do texto. 

O agressor sugere também que “eleitores brasileiros não toleram esse tipo de atitude de representante que se acha melhor que os outros porque é minoria”. Afirma que Isa deveria ser punida e “estar morta”. E, por fim, cita que tem o histórico de seus endereços, incluindo de familiares.

— O segundo (e-mail) veio com o endereço para provar como é fácil me atingir e com essas ameaças. Me coloca num bojo de comunidade negra e LGBT, que ele fala que são as piores pessoas do mundo e que vão ser a primeira de uma onda de morte que vão começar. Me chamam de negra porque tudo que é ruim, de esquerda, é negro para eles —disse Isa.

O gabinete de Isa ingressou com um pedido de proteção parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e vem adotando medidas de segurança recomendadas pela ONG Terra de Direitos, especializada em assistência em questões ligadas a direitos humanos. Em dezembro de 2020 Isa teve os seios apalpados no plenário da Alesp pelo deputado Fernando Cury. Ele foi afastado do cargo por seis meses e expulso do partido ao qual estava filiado na época, o Cidadania. Em dezembro do ano passado, Cury se tornou réu por importunação sexual A denúncia partiu do Ministério Público de São Paulo e foi aceita por unanimidade pelos desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Com a decisão, será instaurada uma ação penal.