O GLOBO, n 32.325, 06/02/2022. Economia, p. 15

Inflação joga o mundo em ‘crise global de alimentos’ 



FAO e FMI apontam preços dos alimentos em patamares recordes, e economistas alertam para o impacto sobre os mais pobres

Os preços dos alimentos dispararam com problemas na cadeia logística global, choques climáticos, alta dos custos com energia e fertilizantes, entre outros fatores, pesando no bolso dos mais pobres do planeta e agravando problemas sociais com a inflação em vários países. 

Não param de subir uma variedade de grãos, óleos vegetais, manteiga, massas, café e outros itens. Na semana passada, a FAO, agência da ONU para alimentos e agricultura, divulgou dados que mostram os preços da comida em janeiro no maior patamar desde 2011. E tudo indica que não vão parar de subir este ano. Carnes, laticínios e cereais retomaram tendência de alta em dezembro do ano passado, ao mesmo tempo em que o petróleo voltou a disparar. 

Maurice Obstfeld, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), avalia que a alta dos alimentos afeta principalmente a renda nos países mais pobres, particularmente na América Latina e na África, onde algumas pessoas gastam entre 50% e 60% do que ganham com comida. Por isso, ele avalia que não é exagero dizer que o mundo está passando por uma “crise global de alimentos”. 

Para Obstfeld, crescimento mais lento das economias, alto desemprego e orçamentos públicos desgastados nos países que gastaram muito para combater impactos econômicos da pandemia formam “uma tempestade perfeita de circunstâncias adversas”. 

Dados do FMI apontam que, em dezembro, a inflação média dos alimentos no mundo estava em torno de 6,85% em base anualizada, a mais alta da série, iniciada em 2014.

Dois anos depois do início da pandemia, a demanda global por alimentos está forte, mas os problemas que pressionam os preços continuam. Secas e outros problemas climáticos em grandes produtores como Brasil, Argentina, EUA, Rússia e Ucrânia (as duas últimas ainda envolvidas numa crise militar) prejudicam a oferta neste ano, observa Christian Bogmans, economista do FMI.