O GLOBO, n 32.324, 05/02/2022. Política, p. 10
‘TERCEIRA VIA DIFERENTE SOU EU, QUE DIALOGO COM O POVO’
André Janones / Pré-candidato à presidencia
Pré-candidato à Presidência, o deputado federal André Janones (Avante-MG), de 37 anos, aposta na sua influência nas redes sociais, onde tem mais de 13 milhões de seguidores, para quebrar a polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-cobrador de ônibus, filho de empregada doméstica e formado em Direito, ele foi catapultado em 2018, como porta-voz da greve dos caminhoneiros e se elegeu com 178 mil votos. Ganhou ainda mais projeção durante o governo Bolsonaro, com lives e discursos nas redes em que prometia exigir das autoridades de Brasília a manutenção do auxílio emergencial em R$ 600. Em um curto período, Janones chegou a bater o próprio Bolsonaro em alcance e interações nas redes sociais. Há dois meses, figurou com 2% na pesquisa Ipec. Ainda que não se defina nem como de esquerda e nem de direita, foi filiado ao PT por nove anos e depois esteve no PSC.
Como pretende fazer campanha num partido com poucos recursos?
Meu partido (Avante) é maior do que era o PSL quando elegeu o presidente Bolsonaro em 2018. A política à base de muito dinheiro e muita estrutura está ultrapassada. Tenho uma estrutura bem razoável e o resto depende da minha capacidade de construir pontes, de mobilizar os meus eleitores e os milhões que já me acompanham nas redes.
Como conseguiu tantos seguidores?
Eu me formei advogado em 2008 e fiquei 10 anos defendendo os mais pobres gratuitamente. Ingressava na Justiça, por exemplo, para uma família que precisava de um medicamento do SUS e ganhava uma liminar. Em seguida, usava as redes sociais para pressionar o Estado a cumprir a decisão. Assim cheguei a 55 mil seguidores. Essa relevância local fez com que uma liderança da greve dos caminhoneiros me chamasse para ajudar o movimento. A greve trouxe os holofotes do país todo. Quando tomei posse já tinha saltado para um milhão. Depois, uma série de lives em defesa de causas sociais me catapultaram. As lives de defesa do auxílio batiam 20 milhões de views.
A candidatura é para valer mesmo ou só para ganhar projeção nacional?
Na verdade, não quero ser candidato a presidente. São as pessoas que represento que querem. Elas já estão de saco cheio de ficar em casa assistindo a essa polarização enquanto passam fome. É uma candidatura que vem da base da pirâmide. Por falta de opção ninguém vai ser constrangido a votar nem em Bolsonaro, nem em Lula. Minha candidatura é séria, sim. Não existe possibilidade de desistência. É uma candidatura que vai até o final.
O senhor chegou a declarar que os candidatos da terceira via deixam os pobres de lado.Está disposto a compor com algum deles?
Não existe terceira via. Existe um Lula mais intelectual que é o Ciro Gomes (PDT). Existe um Bolsonaro mais honesto que é o Moro (Podemos). Um puxadinho de Bolsonaro que é o João Doria (PSDB). É tudo mais do mesmo, farinha do mesmo saco. Por isso que ninguém saiu do lugar até agora. A minha candidatura é uma terceira via diferente, que não faz parte de grandes acordos, que não está sendo negociada fechada entre quatro paredes, mas que está dialogando com o povo. Não estou preocupado com aliança nesse momento. Não somos reféns de aliança. Pretendo buscar aliança em algum momento, mas por uma questão realmente de fortalecer a democracia, de construir pontes. Mas não estou preocupado em me aliar com partido grande.
Acredita que a sua influência nas redes lhe dá vantagem na eleição?
Nenhum dos candidatos da terceira via têm arrancada de 13 milhões de seguidores que estão na base da pirâmide e que sofrem na pele os efeitos da pandemia. Meu engajamento é de longe o maior. Prova disso é que eu começo a pontuar nas pesquisas sem lançar candidatura, sem proposta, nem nada.
Como será seu programa de governo?
A gente está formulando o programa, que vai priorizar a redução das desigualdades sociais, comida na mesa e emprego para o povo. O carro-chefe será um programa de renda mínima que atenda às pessoas menos favorecidas. A ideia é introduzir os mais pobres no mercado de consumo para que a gente possa movimentar a economia e sair dessa crise. Em breve vamos apresentar os estudos que vão apontar o valor e quem serão os beneficiários.
Ações sociais que contemplem uma grande parcela da população são custosas.Teria preocupação em dar um arcabouço fiscal ao país,como já foi a política do teto de gastos?
Não estou preocupado num primeiro momento em dar segurança para o investidor, mas em matar a fome de quem tem que comer. Temos mais de 14 milhões de desempregados. Tem gente comendo osso em açougue. O nosso ponto de partida é garantir que as pessoas consigam fazer pelo menos duas refeições por dia. Depois vamos ver como a gente pode fazer isso sem estourar as contas públicas, onde dá para cortar, como nos privilégios da classe política e do Judiciário.
Num eventual segundo turno,quem escolheria entre Lula e Bolsonaro?
Sou um democrata. Bolsonaro é um inimigo da democracia. É um projeto de ditador. Bolsonaro nunca será opção: seja contra o Lula, o Moro ou o Ciro. Com ninguém.
O senhor é evangélico,mas não defende a família tradicional heteronormativa?
Eu não concebo a expressão família tradicional. Eu defendo a família, de todas as suas formas e o amor. E espero que a gente possa caminhar para uma democracia amadurecida em que orientação sexual não seja mais pauta de disputa presidencial. Quem é evangélico é o André. O deputado federal e pré-candidato se propõe a governar para todos.
“Não existe terceira via. Existe um Lula mais intelectual que é o Ciro Gomes. Existe um Bolsonaro mais honesto que é o Moro. E um puxadinho de Bolsonaro que é o João Doria”
“O apoio (à greve dos caminhoneiros) trouxe os holofotes. Tomei posse já com um milhão de seguidores. Ninguém da terceira via hoje tem meus números”
“Não concebo a expressão família tradicional. Eu defendo a família, de todas as formas. Orientação sexual não é pauta de disputa presidencial”