O GLOBO, n 32.325, 06/02/2022.Política, p. 8

Paes critica Lula por apoio a Freixo: “salto alto”

Arthur Leal e Jan Niklas


Prefeito, que receberá Ciro Gomes hoje, avalia que petista não é “fator relevante' na eleição do Rio como em outros estados e classifica deputado como 'rebelde' e sem responsabilidade econômica. Socialista diz que fala divide oposição a Bolsonaro

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), criticou o ex-presidente Lula (PT) por ter declarado apoio na eleição para governador do Rio ao deputado federal Marcelo Freixo (PSB). Em entrevista ao “Valor”, o prefeito classificou a postura do petista como “um certo salto alto” e afirmou que Lula “não é fator relevante para mim nesta eleição local aqui”, comparando uma maior influência do ex-presidente em estados do Nordeste com a que ele teria no eleitorado fluminense. 

Paes avalia que Lula cometerá um erro em sua estratégia de procurar alianças mais ao centro se sacramentar o apoio ao deputado do PSB, a quem define como um “rebelde”.

—A posição (de Lula) tem sido: “Quero governo do estado, Senado e Presidência da República e quem quiser vir que bata palma pra mim”. A postura do Lula, eu diria com certo salto alto no Rio de Janeiro, não é a de alguém que está buscando somar —declarou Paes ao “Valor”, comentando outros movimentos de Lula. — O gesto com Geraldo Alckmin não é suficiente. Lula quer ficar mais amplo? Tem que mostrar na prática. 

Ao GLOBO, Freixo rebateu as declarações de Paes e procurou classificar o gesto do prefeito como de divisão da oposição, no Rio, ao presidente Jair Bolsonaro, que apoiará a reeleição do governador Cláudio Castro (PL).

— Meu diálogo com o Lula é o melhor possível. Tenho muito orgulho de ter o apoio dele. Fiquei surpreso com a cegueira (de Paes) sobre a situação do Rio e do Brasil. Não adianta a gente falar que quer derrotar o Bolsonaro no Brasil e não enfrentá-lo devidamente no Rio de Janeiro, onde eles estão no governo. Acho que dessa forma, o prefeito divide o Rio onde ele não deveria dividir.

Há duas semanas, Lula sinalizou de forma mais enfática e pública que ele e seu partido apoiarão Freixo ao Palácio Guanabara — PT e PSB negociam uma aliança nacional em torno do petista na eleição presidencial, e o acerto envolve acordos regionais, como no Rio. Desde então, Paes fechou uma aliança no estado entre seu PSD com o PDT. Hoje, o prefeito receberá o presidenciável pedetista, Ciro Gomes, que fará uma palestra na reunião do secretariado municipal carioca e depois terá um encontro reservado com Paes. Ao Valor, o prefeito disse que o acordo local o “aproxima” do apoio a Ciro no plano presidencial.

BELCHIOR E PPPS

Na reunião que selou a união entre PSD e PDT no Rio, Paes e o presidente pedetista, Carlos Lupi, acordaram definir mais à frente quem será o cabeça de chapa, uma vez que os dois partidos já lançaram pré-candidatos ao Guanabara: o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz (PSD) e o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT). “É a terceira via que (nacionalmente) não tiveram capacidade de fazer, e que nós estamos tendo”, disse Paes ao “Valor”.

O prefeito questionou as credenciais de Freixo para se lançar a governador, procurando definir seu adversário como um político de atuação mais sectária e sem compromisso com a responsabilidade econômica.

—Freixo não tem qualquer experiência no Executivo. Como vai ajeitar a situação fiscal (do estado) alguém que a vida inteira defendeu todo tipo de irresponsabilidade? Como vai atrair empresa alguém que a vida inteira disse que concessão e PPP é uma desgraça do capitalismo mundial? Como vai enfrentar o problema da violência alguém que defendeu a extinção da Polícia Militar? — afirmou, antes de ironizar o adversário.— A vida inteira quis essa imagem de rebelde, aquela coisa Belchior, apenas um rapaz romântico latino-americano sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e vindo lá de Niterói, ou São Gonçalo, sei lá de onde ele vem.

Desde que deixou o PSOL e se filiou ao PSB, Freixo vem tentando sinalizar uma inclinação ao centro. Para isso, contratou para cuidar de sua comunicação o marqueteiro Renato Pereira, que atuou para Paes e outros políticos do MDB fluminense em eleições anteriores. Delator da Lava-Jato, Pereira afirmou ter recebido via caixa dois para fazer campanhas de Paes e dos ex-governadores Sergio Cabral e Luiz Fernando Pezão. 

Na pré-campanha, Freixo vem se reposicionando, fazendo, por exemplo, acenos reiterados a policiais militares e ao empresariado, à diferença da linha adotada pelo PSOL. Ele comentou a avaliação que Paes fez de seu estilo:

— Eu sempre defendi a boa polícia. Quero dizer que sou a favor das PPPs, porque não é possível reerguer o Rio de Janeiro sem a iniciativa privada como aliada. O que eu sou contra e sempre fui é a promiscuidade pública privada, outra PPP. Essa eu sou contra e fez muito mal ao Rio nos últimos governos. Foi ela que afastou do Rio bons empresários, tirou daqui o investimento de que a gente tanto precisa.