O Estado de S. Paulo, n. 48066, 24/05/2025. Economia & Negócios, p. B2

Crise com anúncio do IOF atiça ‘fogo amigo’ dentro do governo
Vera Rosa 
Danieltozzi Mendes
Francisco Carlos De Assis
Daniela Amorim
Denise Luna

 

 

Apesar de procurar demonstrar tranquilidade, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfrenta “fogo amigo” nos bastidores do governo. Para a Casa Civil, a Fazenda escondeu o jogo ao informar que faria um anúncio sobre o IOF sem chamar a atenção para as alíquotas e a provável reação negativa do mercado. A equipe econômica, por sua vez, alega que a Casa Civil estava ciente de tudo.

Desta vez, porém, a contrariedade não foi exposta só pelo ministro Rui Costa – desafeto de Haddad. Mesmo sendo aliado de Haddad, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também não gostou de não ter sido avisado sobre a cobrança do IOF. Houve queixas ainda no Ministério do Planejamento.

Na outra ponta, auxiliares de Haddad também fazem críticas à Secretaria de Comunicação Social (Secom), comandada por Sidônio Palmeira. O diagnóstico é de que os responsáveis pela comunicação do governo estariam sempre querendo aparecer como quem resolve crises, quando, na verdade, não entenderiam nada de economia.

Até hoje, o Planalto sofre o desgaste causado pela crise do Pix, quando um vídeo postado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) com notícias falsas sobre a cobrança de taxa daquele mecanismo viralizou nas redes sociais. À época, o governo demorou muito para reagir.

“Virei a noite redigindo o decreto para autorizar a publicação imediata”, disse Haddad, ontem cedo, ainda antes da abertura do mercado. Segundo ele, o governo contou com a colaboração de parceiros para “corrigir rotas”. “Pelas informações recebidas, nós entendemos que valia a pena fazer uma revisão desse item para evitar especulações sobre objetivos que não são próprios da Fazenda nem do governo.”

O ministro ressaltou que o governo deve deixar de arrecadar R$ 2 bilhões. O total das medidas anunciadas na quinta-feira,incluindo a contenção de despesas e o aumento do IOF, é da ordem de R$ 54 bilhões. Não está claro se o governo vai aumentar o corte de despesas para compensar a queda de receita com o IOF.

“Entendemos que valia a pena fazer uma revisão desse item para evitar especulações sobre objetivos que não são próprios da Fazenda nem do governo”

Fernando Haddad, Ministro da Fazenda

GALÍPOLO. Em relação à comunicação da Fazenda com o Banco Central sobre as medidas, Haddad afirmou que cada um tem mandato próprio. “Não reviso decisões do BC”, disse. O ministro disse que conversa com Gabriel Galípolo frequentemente e que avisou que haveria medidas sobre receita e despesa. “BC não analisa decisões do presidente da República, não é esse o procedimento.”

Ao participar ontem de seminário, Galípolo foi questionado sobre o aumento do IOF. “É claro que, nessa busca de alternativas, possam surgir ideias que à luz do sol provoquem algum mal-estar e demandem que sejam revistas ou suprimidas. E acho que todo mundo aqui precisa louvar e reconhecer que o ministro ( Haddad), como bom advogado que é, porque em poucas horas a medida já estava suprimida”, respondeu ele, que repetiu “não ter simpatias” por propostas que considerem a alta do IOF. •