O Estado de S. Paulo, n. 48067, 25/05/2025. Economia & Negócios, p. B4
IOF mais alto encarece o crédito, mas pode ajudar BC com juros, diz Noronha
Altamiro Silva Junior
O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, avalia que as medidas de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) vão encarecer o custo do crédito para empresas, com possibilidade de ter o efeito de segurar a economia. Pelo lado positivo, o Banco Central pode não mais precisar fazer uma alta final na taxa básica de juros, afirmou o executivo ao Estadão/Broadcast.
Noronha disse que defende o ajuste fiscal e o equilíbrio das contas públicas, mas muito mais pelo corte de gastos, e não pelo aumento de receitas com alta de impostos como aconteceu. “São medidas de alguma maneira duras, que encarecem o crédito para as empresas.”
O presidente do Bradesco conta que na quinta-feira, quando as medidas foram anunciadas de surpresa, ele conversou com colegas e resolveu escrever ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para falar de alguns pontos.
O principal foi a decisão de taxar as aplicações de fundos brasileiros no exterior – o governo decidiu recuar em seguida e não taxar mais. Essas medidas inviabilizariam esses fundos, disse Noronha. “Gostei de ver o ministro dando um passo atrás”, afirmou.
Outro ponto que Noronha argumentou com o ministro foi a assimetria gerada dentro dos bancos com as medidas. Se o empréstimo para empresas teve alta do IOF, outras operações, sobretudo as feitas pelos bancos de investiment o , c o mo Cé d u l a d e Crédito Bancário (CCB), se
“Na nossa análise, não faz mais sentido elevar a Selic nem em 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual)”
Marcelo Noronha Presidente do Bradesco
curitização e notas comerciais, não são taxadas. “Isso desequilibra o mercado”, diz o presidente do Bradesco. Por isso, o executivo defende que mais alguns ajustes precisam ser feitos nas medidas. “Acho que poderia dar uma equilibrada nesses produtos de crédito para as empresas, fica assimétrico.”
Já produtos como antecipação de recursos a fornecedores, conhecida como “risco sacado”, e desconto de recebíveis – que, segundo as medidas, vão ser tratados como operação de crédito e, por isso, pagarão IOF – também vão sofrer impacto negativo, avalia Noronha. São linhas de muito curto prazo e que já têm margens apertadas, ressalta o executivo. “Inevitavelmente fica um pouco mais caro. Vai reduzir essa carteira.”
SELIC. As medidas anunciadas na quinta-feira, que fazem a contenção R$ 31,3 bilhões em gastos do Orçamento e elevam as alíquotas de IOF, ao aumentar o custo do crédito para empresas, podem ter efeito na demanda. “É inevitável que, com a subida de preços, em alguma medida, essa demanda se reduza”, disse Noronha, ressaltando que algumas companhias podem não querer tomar empréstimos a esse preço.
E, como termina sendo uma medida de restrição econômica, observa Noronha, a avaliação é de que o Banco Central pode não mais precisar fazer uma última elevação de juros. Do ponto de vista da política monetária, essas medidas ajudam. “Na nossa análise, não faz mais sentido elevar a Selic nem em 25 pontos-base (0,25 ponto porcentual).” •