O Estado de S. Paulo, n. 48067, 25/05/2025. Economia & Negócios, p. B1

Trump frustra quem esperava corte de imposto e PIB em alta
Cícero Cotrim
Célia Froufe
Luiz Guilherme Gerbelli

 

 

As políticas econômicas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocaram o mundo em um ambiente de grande incerteza. Na economia real americana, os prejuízos de toda essa confusão devem ficar mais claros nos próximos meses, a depender do desenrolar das negociações dos EUA com outros países. Mas o que dá para dizer é que a insegurança entre consumidores e empresários cresceu com a guerra comercial, o que trava os investimentos das companhias e os gastos das famílias – e, assim, afeta o crescimento econômico.

As decisões de Trump empurram o mundo para uma nova ordem global, e as incertezas que pairam em relação ao que virá estão próximas de se equiparar às observadas na pandemia, em 2020, quando a economia global enfrentou um duro choque.

Sem uma clareza de quais regras vão vigorar no comércio internacional, as companhias permanecem em compasso de espera. Elas não tiram projetos do papel por não saber qual região global será a mais vantajosa para novos investimentos e se vão conseguir exportar.

“A gente não sabia quando a

Na retranca Sem clareza, empresas mantêm projetos no papel por não saber qual região global será mais atraente

pandemia iria acabar, mas havia, desde o início, a expectativa da vacinação e, em algum momento, as cadeias produtivas iriam voltar”, diz Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management. “Mas, agora, a perspectiva dos investidores é de que estamos entrando numa nova ordem global de verdade, de que o mundo vai ser um mundo mais dividido.”

‘TURBULÊNCIA’. Em abril, o Fundo Monetário Internacional diminuiu a previsão de crescimento para a economia global de 3,3% para 2,8% (mais informações no quadro da pág. B2). O FMI destacou as tarifas de Trump como fonte de “turbulência”. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos recuou 0,3%. Foi a primeira queda em três anos. O resultado foi influenciado pelo aumento das importações – com as empresas se antecipando ao tarifaço de Trump. Embora o resultado da economia tenha sido ruim, não há uma previsão, por ora, de que os EUA vão entrar numa recessão.

“A incerteza é grande, e existe uma percepção de que a coisa mudou. Ela já vinha mudando antes. No primeiro mandato, Trump já havia colocado tarifas sobre produtos chineses. O (expresidente Joe) Biden não recuou nessas medidas”, afirma Armando Castelar, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).

“Obviamente, esperava-se uma coisa mais lenta. Trump fez uma coisa mais radical, e também foi uma medida que deixou de ser só com a China e envolveu todo mundo”, afirma.