O Estado de S. Paulo, n. 48067, 25/05/2025. Economia & Negócios, p. B2
Trump frustra quem aguardava iniciativas para crescimento
Luiz Guilherme Gerbelli
Cícero Cotrim
Célia Froufe
Neste segundo mandato do presidente americano Donald Trump, há uma grande frustração de parte dos agentes de mercado. Havia a expectativa de que, apesar das tarifas, o novo governo de Trump implementaria logo de início também medidas mais voltadas para o crescimento econômico. No primeiro trimestre de 2025, o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,3%.
“As tarifas, além de frustrar, mostraram que essa é a grande aposta dele no primeiro ano do segundo mandato”, afirma Marcela Rocha, economistachefe da Principal Asset Management. “Veio a surpresa com o anúncio das tarifas e com a magnitude delas.”
Há também uma leitura de que Trump tem ido mais rápido do que o esperado, sobretudo ao considerar o caminho percorrido pelo republicano no seu primeiro governo. Em parte, o que explica essa velocidade é o fato de ele ter saído fortalecido das urnas, por vencer tanto no voto popular quanto no colégio eleitoral.
Em 2 de abril, no que chamou de o Dia da Libertação, o presidente americano anunciou tarifas recíprocas de dois dígitos para 60 parceiros comerciais, num cálculo que ficou pouco claro. O Brasil recebeu uma tarifa de 10%.
“A gente não sabe o que Trump vai fazer, mas a gente sabe que o limite do Trump é o título americano”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
As tarifas recíprocas foram suspensas em 9 de abril, quando os investidores passaram a vender títulos do governo americano, num claro sinal de que a economia dos Estados Unidos deixou de ser considerada – pelo menos naqueles dias – o porto seguro do mundo.
ERRÁTICO. “Há uma sensação de que mudou, mas Trump vai e, depois, volta. Está todo mundo na expectativa do que vai valer a médio prazo e do que esses acordos vão significar”, afirma Armando Castelar, pesquisador associado do
No ataque Fortalecido pelas urnas no 2º mandato, Trump ficou mais à vontade para tomar decisões
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre). “A grande incerteza é se esses acordos vão valer ou não.”
No dia 8 deste mês, os Estados Unidos anunciaram um acordo tarifário com o Reino Unido. No dia 12, os EUA e a China anunciaram uma trégua para reduzir a maioria das tarifas recentes e estabelecer uma pausa de 90 dias em sua guerra comercial para permitir novas negociações.
Pelo acordo, os Estados Unidos reduziram a tarifa sobre as importações chinesas de 145% para 30%, enquanto a China diminuiu o imposto de importação sobre produtos americanos de 125% para 10%.
NOVO PATAMAR. Mesmo com uma eventual redução das tarifas, a leitura dos analistas é de que a economia global não vai voltar ao que era – o comércio internacional já mudou.
Por ora, é difícil chegar a uma conclusão de qual será o saldo de toda essa incerteza para a economia brasileira. “A gente não sabe o que vai acontecer com commodities, não sabe o que vai acontecer com a inflação”, disse, em recente entrevista ao Estadão, Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, economista da Pinnotti & Schwartsman Associados e colunista do jornal.
“Do lado positivo, tem uma questão de commodities e China. No caso de algumas commodities com as quais a gente compete com os Estados Unidos, notadamente a soja, pode resultar em um cenário positivo para o Brasil”, acrescentou.
Na terça-feira retrasada, a ata do Banco Central indicou que a cúpula da autoridade monetária avaliou, no mais recente encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que o Brasil parece menos afetado pelas novas tarifas comerciais dos Estados Unidos do que outros países. Mas, segundo o colegiado, o País sente o impacto da medida em função do cenário global adverso – o Copom aumentou a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual, para 14,75% ao ano, no início de maio.
“O cenário externo mostrase adverso e particularmente incerto. O choque de tarifas e o choque de incerteza, apesar de todas as tentativas de mensuração, ainda são de impacto bastante incerto”, enfatizou o Copom, no documento. A ata também trouxe observações de que as camadas de incerteza envolvem a própria determinação da política tarifária americana, a resposta tarifária dos demais países a essa política e a reação das empresas. Esse conjunto de fatores deve levar a possíveis impactos em cadeias globais de produção e à resposta dos consumidores às mudanças de preços.