O GLOBO, n 32.326, 07/02/2022. Política, p. 8

Com Paes, Ciro diz que Freixo entrou no ''jogo de carreirismo de Lula”

Jan Niklas


Presidenciável do PDT se reúne com prefeito do PSD no Rio, onde os dois partidos selaram aliança por 3ª via ao governo estadual

Após PDT e PSD selarem uma aliança no Rio de Janeiro mirando a eleição para o governo do estado, o prefeito Eduardo Paes (PSD) recebeu em reunião com seu secretariado, na manhã de ontem, o presidenciável Ciro Gomes (PDT). Depois de palestrar em tom de campanha para a equipe da prefeitura do Rio, Ciro falou com a imprensa e fez críticas ao pré-candidato ao Palácio Guanabara Marcelo Freixo (PSB) e ao ex-presidente Lula (PT).

O pedetista afirmou que tem uma amizade de longa data com o prefeito carioca e que Paes votou nele em suas três candidaturas. De acordo com Ciro, existe a possibilidade de uma aliança mais ampla com PSD, de caráter nacional.

No momento, o partido liderado por Gilberto Kassab ainda trabalha oficialmente com a pré-candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), à Presidência da República. Ciro afirmou que um possível palanque com Paes não é uma condição para o acordo já firmado no Rio, e aproveitou para criticar a aliança de Lula e Freixo para a disputa no estado.

— Ele (Freixo) entrou no jogo do Lula. E não é um jogo sério pro Rio de Janeiro. É um jogo de carreirismo particularista —alfinetou Ciro, sem a presença de Paes, completando: — O Lula apoiou Sérgio Cabral a vida inteira. O Freixo não tem nenhuma opinião sobre isso? Eu tenho.

Freixo vem usando como trunfo de sua campanha o apoio do ex-presidente Lula à sua candidatura. Para criar uma espécie de “terceira via” no estado — uma alternativa ao candidato do PSB e ao governador Cláudio Castro (PL), que tem apoio do presidente Jair Bolsonaro, PDT e PSD se uniram para formar uma chapa única para a disputa no Rio.

NOME COMPETITIVO

Após o PT largar na frente nas movimentações sobre a disputa para o governo fluminense decretando o apoio a Freixo, o prefeito do Rio começou a se articular para emplacar uma candidatura competitiva contra o deputado federal, que é um de seus principais adversários políticos.

O prefeito saiu do evento sem falar com a imprensa. No último sábado, Paes criticou em entrevista ao Valor Econômico o apoio de Lula a Freixo dizendo que o petista adota uma postura de “salto alto” no Rio.

Segundo Ciro Gomes, ainda é preciso “paciência” para avançar nas conversas sobre acordos nacionais.

— Hoje, ele (Paes) tem uma delicadeza que respeito muito. Ele pertence a um partido que tem um candidato e tem compromisso com isso. Quero que o PSD tenha o tempo dele, mas gostaria muito de ter o apoio —afirmou Ciro, aproveitando para criticar mais uma vez Lula: — E eu respeito muito isso porque não sou como o Lula. O Lula está destruindo o PSOL, o PCdoB, o PSB… Porque pro Lula tem ficar o PT sozinho.

Também estavam presentes no encontro da prefeitura do Rio o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e os pré-candidatos ao governo do Rio, Rodrigo Neves (PDT) e Felipe Santa Cruz (PSD). Na última quarta-feira, os três já haviam se reunido com Eduardo Paes para fechar o acordo entre os partidos.

VICE DA BAIXADA

O grupo ainda irá definir quem concorrerá ao Palácio Guanabara. Lupi afirmou ainda que o bloco deve buscar na Baixada Fluminense um vice para compor a chapa e ganhar visibilidade nessa região, vista como estratégica pelo grande colégio eleitoral. Maior cidade da Baixada, Duque de Caxias tem o terceiro maior eleitorados do estado e Nova Iguaçu, o quarto.

Ao ser questionado sobre candidatos a governador pelo PDT que pressionam o partido para receber Lula no palanque, por conta de sua estagnação nas pesquisas eleitorais, Ciro Gomes disparou mais uma vez contra o adversário petista.

— O gabinete do ódio do Lula trabalha todo dia para criar essa intriga, essa futrica, porque quer ver a eleição resolvida no ‘conchavão’ despolitizado dele —disse Ciro.

Ciro: existe a chance de aliança mais ampla do PDT com o PSD, de caráter nacional