Correio Braziliense, n. 22659, 04/04/2025. Economia, p. 6
Medida pode ajudar Mercosul
O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Jorge Viana, disse, ontem, que a elevação das tarifas de importação imposta pelos Estados Unidos pode contribuir para acelerar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Em entrevista na sede do órgão, ele ponderou, no entanto, que o país ainda não deve pensar em qual vantagem pode tirar da situação, mas, sim, focar nos riscos que a medida representa para o multilateralismo.
“Nós já ouvimos e vimos manifestações de líderes europeus que dizem que vão acelerar o processo de validação do acordo Mercosul União Europeia”, disse. “Acho que o Brasil não tem que focar em qual vantagem a gente vai tirar nisso.
Óbvio que qualquer analista vê que se os EUA conseguirem implementar essas medidas, isso pode ajudar a avançar na implementação do acordo Mercosul-UE. Tudo muda e abrem-se muitas possibilidades. Mas acho que antes vêm as dificuldades”, completou.
Para Viana, o governo deve manter o tom de cautela após o anúncio de uma tarifa adicional de 10% sobre os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. Ele confia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode atuar diretamente em uma possível negociação com o presidente dos EUA, Donald Trump.
Sobre a aprovação da nova Lei da Reciprocidade no Congresso Nacional, o presidente da Apex avalia que o movimento de pautar o projeto com urgência e ganhar o apoio tanto do governo quanto da oposição foi importante para fortalecer o interesse do país. “O Congresso foi muito ágil e isso conseguiu motivar uma pacificação política que a gente nunca viu”, considerou.
Viana ainda evitou comentar sobre uma possível retaliação e disse que o Brasil “não deve desistir dos EUA”, sinalizando que o país norte-americano é responsável por adquirir uma gama de produtos brasileiros de maior valor agregado. “É a maior economia do mundo e temos que buscar investimentos. A gente trabalha para que os empresários e setores econômicos prosperem”, completou O governo tem sido muito cauteloso desde o começo. Os posicionamentos do Itamaraty têm sido sempre muito moderados.
Agora, depois de todo esse conjunto de medidas, acho que o Brasil tem que ter cautela e esperar mais, porque os que foram taxados três ou quatro vezes a mais vão ter que procurar primeiro os EUA para tentar negociar”, comentou Viana, ontem. A Apex Brasil é um dos atores que trabalham diretamente com o governo federal na pauta do comércio exterior.