Correio Braziliense, n. 22659, 04/04/2025. Economia, p. 6
Lula reage a tarifaço
Victor Correia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu retaliar o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em tom duro, o petista frisou que o Brasil não presta continência a outras bandeiras, e que a reação seguirá o projeto de lei da reciprocidade, aprovado pelo Congresso Nacional. A matéria, que aguarda apenas a sanção do presidente, dará ao Brasil a possibilidade de reagir sem depender da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Apesar do discurso de Lula, o governo ainda discute o que fazer, e há possibilidade de tentar avançar nas negociações sem precisar retaliar de fato, o que traria risco de nova escalada nas tensões. “O Brasil é um país que não tolera ameaça à democracia. Que não abre mão da sua soberania.
Que não bate continência para nenhuma bandeira que não seja a bandeira verde e amarela. Que fala de igual para igual e respeita todos os países, dos mais pobres aos mais ricos, mas que exige reciprocidade no tratamento. Defendemos o multilateralismo e o comércio e responderemos a qualquer tentativa de impor o protecionismo, que não cabe mais hoje no mundo”, discursou Lula durante o evento Brasil Dando a Volta por Cima, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
“Diante da decisão dos Estados Unidos de impor uma sobretaxa aos produtos brasileiros, tomaremos todas as medidas cabíveis para defender as nossas empresas e os nossos trabalhadores brasileiros, tendo como referência a Lei da Reciprocidade Econômica aprovada ontem (anteontem) pelo Congresso Nacional, e as diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, acrescentou ainda o chefe do Executivo. Trump anunciou o tarifaço na quarta-feira, atingindo vários de seus parceiros comerciais.
O Brasil recebeu uma taxa de 10% sobre todos os produtos que vende ao mercado norte-americano, mas que também se soma à tarifa de 25% imposta sobre todo o aço exportado aos Estados Unidos. O Brasil ficou entre os países que receberam a menor sanção, o que gerou certo alívio no setor produtivo e no governo. Nos dias que antecederam ao anúncio, havia grande incerteza sobre quais países seriam atingidos, e qual seria o patamar da taxação. Mesmo assim, o governo discute qual será a melhor resposta.
Lula já havia sinalizado que uma resposta recíproca estava na mesa, mas disse que aguardaria uma decisão da OMC. Atualmente, não há legislação para embasar respostas econômicas à imposição de tarifas avaliadas como injustas. Isso muda com a sanção da Lei da Reciprocidade.