O GLOBO, n 32.326, 07/02/2022. Mundo, p. 20

EUA: Rússia pode atacar Ucrânia ''a qualquer momento”



Conselheiro de Segurança, porém, não descarta rota diplomática; governo ucraniano adverte contra 'previsões apocalípticas'

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou ontem que a Rússia pode invadir a Ucrânia dentro de dias ou semanas, ou então não efetuar nenhum ataque e optar por um caminho diplomático.

— A qualquer momento, a Rússia pode tomar uma ação militar contra a Ucrânia, ou pode ser daqui a algumas semanas. Ou a Rússia pode optar por seguir o caminho diplomático — disse Sullivan ao programa “FoxNewsSunday ”.

Sullivan repetiu esses comentários em diferentes entrevistas na TV depois que autoridades americanas disseram no sábado que a Rússia — que em 2014 anexou a Crimeia, península que havia sido cedida à Ucrânia na era soviética—tem cerca de 70% do poder de combate necessário para uma invasão em larga escala da nação vizinha.

Ontem, porém, o chanceler da Ucrânia demonstrou desconfiar de “previsões apocalípticas ”. Para ele, as possibilidades de uma “solução diplomática” com a Rússia são “muito superiores” às de um “acirramento” militar. “Não confie em previsões apocalípticas”, escreveu o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, em uma rede social. “A Ucrânia tem um Exército poderoso, apoio internacional sem precedentes e está pronta para qualquer cenário”, completou. O conselheiro chefe do governo ucraniano, Myhailo Podoliak, ratificou que “as chances de se encontrar uma solução diplomática para uma atenuação das tensões são consideravelmente maiores que a ameaça de um novo acirramento”.

Porém, nos arredores da capital, Kiev, grupos de civis, incluindo jovens, mulheres e famílias, têm participado há dias de treinamentos de guerra e autodefesa. Com armas de madeira, recebem orientações de veteranos da Guarda Nacional Ucraniana.

Segundo funcionários do governo dos EUA, em informes ao Congresso e a seus aliados europeus, os serviços de Inteligência americanos ainda não conseguiram estabelecer se o presidente russo Vladimir Putin tomou a decisão de invadir ou não. Para a Inteligência dos EUA, caso a Rússia opte por um amplo ataque, poderia tomar a capital e derrubar o presidente Volodymyr Zelensky em 48 horas.

DIFERENTES CENÁRIOS

Apesar de ter concentrado mais de 100 mil soldados perto da fronteira ucraniana, Moscou disse que não planeja uma invasão, mas pode empreender uma ação militar não especificada se as exigências de segurança que fez à Otan, a aliança militar ocidental, não forem atendidas. As exigências incluem a promessa de que a Otan nunca admitirá a Ucrânia entre seus membros, uma demanda que os EUA dizem considerar inaceitável.

Segundo Sullivan, outras possíveis ações russas incluem a anexação da região de Donbass, onde separatistas apoiados pela Rússia enfrentam o Exército ucraniano desde 2014,e ataques cibernéticos.

—Acreditamos que há uma possibilidade muito clara de que Vladimir Putin ordene um ataque à Ucrânia — disse.

Washington já deixou claro que não enviaria soldados para defender a Ucrânia. No entanto, fornece armas a Kiev e anunciou o envio de mais 3 mil soldados para a Polônia e a Romênia para proteger a Europa Oriental de possíveis repercussões da crise.