O GLOBO, n 32.326, 07/02/2022. Política, p. 7
Remanescentes de 2018, Onyx e Heleno vivem posições opostas
Jussara Soares
Ministro do Trabalho mantém assento no núcleo da campanha de Bolsonaro; chefe do GSI está escanteado do time político
Remanescentes do núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro em 2018, os ministros Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) ocupam posições antagônicas no projeto à reeleição do presidente este ano. Enquanto Onyx, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul, aproximou-se dos líderes do Centrão e novamente integra o comitê presidencial, Heleno, um dos principais conselheiros do chefe, afastou-se da cena eleitoral.
A influência do general de quatro estrelas no Palácio do Planalto, porém, ainda é notada. Diariamente, Heleno despacha com o presidente sobre os mais diferentes temas institucionais, mas perdeu espaço na seara política. Em 2018, o atual ministro ajudou a elaborar o plano de governo de Bolsonaro, atraiu militares e participou ativamente das reuniões de coordenação da campanha. Na época, o militar da reserva chegou a se filiar ao PRP (atual Patriota) com a intenção de sair como candidato a vice de Bolsonaro. A legenda acabou rejeitando a aliança eleitoral.
A confiança até então era baseada em uma relação de mais de 40 anos. General Heleno e Bolsonaro se conheceram no final dos anos 1970 na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, no Sul Fluminense. Os dois se aproximaram por meio do interesse em comum pelo paraquedismo. Após a eleição, o general ganhou o comando do GSI, mas aos poucos viu sua influência no Planalto diminuir com a chegada de outros militares ao governo, como o titular da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, e o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto — um dos cotados para vice de Bolsonaro na eleição de outubro.
A interlocutores, o ministro chefe do GSI admite seu afastamento total das discussões sobre reeleição e não demonstra interesse em disputar cargo eleitoral. Nessas conversas reservadas, em tom de resignação, Heleno alega ser“natural” o distanciamento, uma vez que o presidente agora tem “novos conselheiros”, referindo-se aos líderes do Centrão, que foram alvos de críticas do general Heleno na eleição passada. Na ocasião, ele bradou a hoje conhecida frase, uma paródia do samba de Ary do Cavaco e Bebeto Di São João:
— Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão.
Hoje, os expoentes do grupo mencionado por Heleno, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, cacique do PP, comandam o comitê de reeleição, ao lado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As primeiras reuniões ocorreram justamente na casa de Onyx no final do ano passado — repetindo o papel de anfitrião para aliados que desempenhou na outra corrida eleitoral. Ainda em 2017, o atual ministro do Trabalho, então deputado federal em seu quarto mandato, foi o responsável por organizar encontros para tentar atrair apoio à ainda desacreditada candidatura de Bolsonaro.
De acordo com integrantes de comitê de reeleição, Onyx tem analisado cenários políticos e pesquisas qualitativas com Valdemar, Flávio e Nogueira para tentar reverter a posição desfavorável do presidente Bolsonaro, atrás do ex-presidente Lula (PT) nas intenções de voto. A atuação de Onyx, porém, deve se limitar ao período pré-eleitoral, já que em abril deixará o cargo na Esplanada dos Ministérios para se dedicar à campanha pelo governo gaúcho. Hoje no DEM, Onyx aguarda a janela partidária de março para se transferir para o PL.
DE ALIADOS A INIMIGOS
Exceto estes dois ministros e os filhos do presidente, os integrantes do núcleo duro da campanha de Bolsonaro de 2018 romperam com o titular do Palácio do Planalto já no primeiro ano de seu governo. O advogado Gustavo Bebianno, morto em 2020, era o coordenador da campanha do presidente. Ele chegou a ser ministro-chefe da Secretaria-Geral por apenas 48 dias, mas foi demitido após atritos com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Membro do núcleo duro de 2018, o deputado federal Julian Lemos (PSL-PB) se apresentava como coordenador da campanha no Nordeste. Ele também brigou com o presidente e hoje faz campanha para o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos). Presidente do PSL — partido que deu guarida a Bolsonaro em 2018 —, o deputado Luciano Bivar também costumava participar das decisões da campanha da eleição passada. Mas ele e Bolsonaro romperam em outubro de 2019 numa discussão sobre o controle do fundo partidário. Atualmente, Bivar aguarda a Justiça Eleitoral homologar o União Brasil, fusão entre o seu PSL e o DEM.