Correio Braziliense, n. 22662, 07/04/2025. Política, p. 2
Lula freia queda de popularidade
Victor Correia
Depois de quase dois meses lutando para reverter a queda sucessiva nos índices de popularidade de olho em 2026, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva comemorou no fim de semana os números do Datafolha, que mostrou uma melhora no índice de aprovação do presidente.
A porcentagem daqueles que consideram o governo ruim ou péssimo caiu de 41% em fevereiro para 38% no levantamento feito no início de abril. Embora aliados estejam dizendo que a pesquisa marca o início de uma tendência de virada, o caminho ainda é longo para o petista.
A desaprovação ao governo ainda supera a aprovação, que aumentou de 24% para 29%. O Planalto sofre as consequências da crise que começou com a onda de desinformação de parte da oposição sobre o Pix e se intensificou com a inflação dos alimentos. Lula vive o pior momento de seus três mandatos, em termos de aprovação, mesmo tendo enfrentado escândalos, como o Mensalão e o Petrolão. Segundo analistas ouvidos pelo Correio, o governo erra ao apostar em “mais do mesmo” para resolver a popularidade, enquanto deveria apresentar novas políticas públicas, que sejam efetivas. O cenário de desgaste preocupa aliados do governo, e dá mais espaço para que a oposição tente avançar de olho em 2026.
Prova da estratégia equivocada foi o evento organizado pelo Planalto na semana passada em Brasília.
Com tom eleitoral, a equipe de Lula se desdobrou para dar ares de novidade a diversas ações já anunciadas.
Nos bastidores, integrantes do Executivo e aliados falavam da cerimônia como uma virada de chave para a gestão. Internamente, a avaliação é que as medidas já colocadas em prática são positivas, mas são desconhecidas pela população, e que basta divulgar melhor para ver resultados. Porém, no dia da solenidade, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, tentou distanciar a cerimônia da popularidade.
“O meu trabalho não é estar aqui para discutir a popularidade do presidente ou do governo.
O meu trabalho, essencialmente, é informar a população sobre isso e demonstrar essas ações”, disse o ministro. Ao ser questionado por uma jornalista sobre o papel da comunicação do governo na queda de popularidade, Sidônio cometeu um ato falho e disse que a culpa é de todos os ministros. “Não tem nada de eu me isentar de impopularidade.
Zero. Eu acho que a impopularidade tem responsabilidade de todos os ministros. Todas as áreas, a área política, gestão, comunicação, todo mundo”, disse.
A falha foi explorada pela oposição nas redes sociais. “Quando o governo é uma porcaria, ninguém segura a peteca! Será que foi o Lula quem mandou colocar a culpa nos ministros? Daqui a pouco, até os próprios ministros do Lula vão pedir: ‘volta, Bolsonaro!’”, disse em seu perfil do X o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Ao Correio, o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), que faz oposição ao governo na Câmara, diz que a queda de popularidade de Lula não surpreende porque o Planalto está “cada vez mais desconectado da realidade do povo brasileiro”. “Promessas não cumpridas, inflação nas alturas, gastos exorbitantes e uma gestão que já se mostrou ineficaz. O que vemos é um desgaste inevitável de Lula que, em vez de ouvir as ruas, insiste em seguir por um caminho de autoritarismo e desgoverno. O povo brasileiro merece mais do que isso”, pontua.
Já o deputado Alencar Santana (PT-SP), alinhado ao governo, diz que as diversas políticas públicas do governo serão reconhecidas pela população. Para ele, a popularidade do presidente voltará a subir.
“O governo Lula criou ao longo desse tempo políticas públicas novas, como o Desenrola, como o Pé-de-Meia. E agora, a isenção até R$ 5 mil do Imposto de Renda, lembrando que quem já ganha R$ 2 mil também será isentado. Também recriou políticas que foram destruídas no governo anterior, como o Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos, o aumento real do salário mínimo acima da inflação, o novo Bolsa Família, entre tantas outras coisas, como o PAC”, elenca.
Sem novidades
A professora de Ciência Política da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Luciana Santana destaca que a grande maioria das ações divulgadas durante o evento de quinta-feira são repaginadas dos dois primeiros mandatos, como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não têm o mesmo impacto na popularidade que tiveram entre 2003 e 2011. Para a cientista, o governo tem que apostar em novas políticas que tenham efeitos concretos na vida dos eleitores, mesmo os que rejeitam Lula.
Para o advogado e cientista político Nauê Bernardo, Lula precisa mostrar para a população que possui um plano capaz de reverter os problemas que mais preocupam os brasileiros, como a recuperação do poder de compra, diminuindo o preço dos alimentos e dos combustíveis, e a segurança pública. “Se a população não percebe mudanças, melhoras no dia a dia, a tendência é inercial. Então, a queda vai continuar acontecendo, exatamente porque, por um lado, você tem uma oposição firme, que consegue reverberar bastante o discurso crítico, e por outro uma falta de sensação de melhora”, avalia.