O GLOBO, n 32.327, 08/02/2022. Política, p. 6
Em agenda-relâmpago, Bolsonaro se reúne com Fachin e Moraes
André de Souza
Encontro com ministros do STF que já atacou publicamente foi protocolar, durou dez minutos e teve pedido de 'diálogo'
O presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem de manhã no Palácio do Planalto os ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, que fazem parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF). Os magistrados foram alvo de alguns dos ataques mais duros feitos pelo presidente desde que ele assumiu, sobretudo Moraes, relator de inquéritos que investigam o chefe do Executivo e seus aliados. Segundo o TSE, o encontro durou cerca de dez minutos.
Em conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro comentou o fato de ter recebido o magistrado, por vezes tratado por ele como um inimigo público.
— Eu converso com todo mundo e busco soluções. Todos nós queremos uma coisa só: transparência e segurança —limitou-se a dizer .
Fachin e Moraes foram ao encontro de Bolsonaro para entregar o convite da cerimônia em que eles vão tomar posse, no próximo dia 28, como como presidente e vice-presidente do TSE, respectivamente. De acordo com a colunista do GLOBO Bela Megale, o encontro foi protocolar e, na ocasião, o titular do Planalto disse a Moraes que considera importante que os dois tenham “mais diálogo”.
Apesar de integrantes do STF terem visto a ida dos ministros como um ato protocolar, sem sinais de uma tentativa de aproximação, a visita foi entendida por membros do governo como um “gesto de distensionamento” na relação com a Corte eleitoral e “muito positivo”. Ministros relataram à colunista que a entrega do convite em mãos ao presidente é “prova de uma relação civilizatória” que os magistrados pretendem manter com o Planalto. Antes da reunião, Bolsonaro havia recebido o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os três comandantes das Forças Armadas. Todos participaram da entrega formal do convite. Na agenda, que aconteceu no gabinete do presidente da República, eles se colocaram à disposição para darem apoio à realização de eleições tranquilas em 2022.
O mais recente episódio de tensão entre Bolsonaro e Moraes ocorreu no final do mês passado. O presidente faltou a um depoimento que deveria prestar à Polícia Federal, por determinação do magistrado, num inquérito em que ele é acusado de vazar documentos de uma investigação sigilosa. Na semana passada, a PF concluiu o caso e considerou que, de fato, Bolsonaro deu publicidade a informações reservadas, mas não requereu punição pela ausência à oitiva. Agora, cabe à Procuradoria-Geral da República dizer se acolhe o pedido de responsabilização contra o presidente.
ATAQUES A FACHIN
Na semana passada, na primeira sessão do ano, o atual presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, criticou Bolsonaro em razão do vazamento de dados. Segundo Barroso, a atitude de Bolsonaro expôs informações que ajudam “milícias digitais e hackers” que queiram invadir o sistema do TSE.
O auge do conflito entre os dois Poderes, contudo, foi visto durante a comemoração do Sete de Setembro do ano passado. Na ocasião, em discurso na Avenida Paulista, Bolsonaro chamou Moraes de “canalha”. Afirmou que ele deveria “pegar o chapéu” e deixar o STF e disse que não cumpriria mais decisões proferidas pelo ministro. Depois da repercussão do caso, ele ensaiou um recuo, com a intermediação do ex-presidente Michel Temer, que em seu governo indicou Moraes para o STF.
Fachin também já foi objeto dos disparos presidenciais, a exemplo do que ocorreu no início deste ano. Bolsonaro criticou o ministro por ter suspendido uma lei estadual que proibia a utilização da chamada linguagem neutra em escolas. O presidente questionou “que ministro é esse” e “o que ele tem na cabeça”.
— Que país é esse? Que ministro é esse do Supremo Tribunal Federal? O que ele tem na cabeça? O que ele… É “eu quero”? Virou “eu quero”, “eu não quero”? — provocou Bolsonaro, na ocasião, durante entrevista concedida à rádio “Jovem Pan”.