Correio Braziliense, n. 22664, 09/04/2025. Política, p. 3
Perene luta indígena por direitos
Fernanda Ghazali
Milhares de indígenas do Acampamento Terra Livre (ATL) marcharam, ontem, pelo centro de Brasília, rumo ao Congresso, num ato para reivindicar políticas públicas e a de marcação de seus territórios. Na Câmara, houve uma sessão em homenagem ao movimento — maior mobilização de povos originários do mundo, organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Esta 21ª edição do ATL reúne mais de 200 povos de todas as regiões do Brasil, com o lema “Apib somos todos nós: nosso futuro não está à venda!”. No percurso até o Congresso, houve cantos tradicionais, cartazes com palavras de ordem e rituais, reivindicando direitos.
A manifestação levou para o Congresso as vozes e as pautas dos povos originários, reforçando a importância da presença indígena nas decisões políticas. A sessão no plenário da Câmara contou com autoridades como as ministras dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; e dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo; a presidente da Funai, Joenia Wapichana; e a deputada federal Célia Xakriabá (PSol-MG).
Na abertura da sessão, Xakriabá destacou o avanço da presença indígena em espaços institucionais. “Este é o Congresso Nacional que sonhamos para o futuro. Este é o Congresso de um Brasil que começa por nós”, afirmou, valorizando, especialmente, o papel das mulheres na chamada bancada do cocar.
O meio ambiente foi uma das pautas centrais tanto na marcha quanto no plenário. Em seu discurso, Guajajara ressaltou a importância dos saberes ancestrais no enfrentamento da crise climática.
“O governo federal tem a responsabilidade de implementar políticas públicas, mas convidamos todos os políticos deste país a darem um pouco mais de atenção às demandas apresentadas pelos povos indígenas”, declarou.
A violência em terras dos povos originários e o risco aos direitos constitucionais foram denunciados por Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Apib, que completa 20 anos em 2025. “Esta Casa está se articulando e mobilizando proposituras de PECs e PLs que afrontam os direitos constitucionais dos povos indígenas”, enfatizou.
Reconhecido internacionalmente, o líder kayapó Raoni Metuktire fez um apelo pela continuidade da batalha coletiva. “Estou cada vez mais cansado, e agora essa luta é com vocês; precisam ser firmes para continuar a defesa dos nossos direitos e territórios”, disse.
Na manifestação, o cacique Dioclécio da Costa, do povo Mendonça (RN), destacou o fortalecimento da presença indígena em cargos de liderança, como no Ministério dos Povos Indígenas, na Funai e na Secretaria Especial de Saúde Indígena. “Espero que a gente tenha os nossos direitos assegurados, como a demarcação territorial, uma educação escolar indígena diferenciada e a criação de mais políticas públicas para atender toda a diversidade brasileira”, afirmou.
Lapa Yawalapiti, do Território Indígena do Xingu (MT), celebrou o fim da gestão anterior, mas reforçou que os desafios persistem. “O governo Bolsonaro foi muito ruim para os povos indígenas. Quando trocou de governo, mudou um pouco, mas ainda tem muito preconceito. Por isso, estamos aqui manifestando por nossos direitos e para que nos respeitem.”
Frase
“O governo federal tem a responsabilidade de implementar políticas públicas, mas convidamos todos os políticos deste país a darem um pouco mais de atenção às demandas apresentadas pelos povos indígenas”
Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas