O GLOBO, n 32.329, 10/02/2022. Economia, p. 14
Inflação em janeiro, de 0,54%, é a maior para o mês desde 2016
Carolina Nalin
Em 12 meses, IPCA acumula alta de 10,38%. Pressão maior veio de alimentos
Puxada pela alta dos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,54% em janeiro, a maior taxa para o mês desde 2016, quando chegou a 1,27%, informou ontem o IBGE. O IPCA acumula alta de 10,38% em 12 meses.
O resultado veio de acordo com o que os analistas projetavam, em média 0,55%, mas a disseminação dos aumentos de preços preocupou economistas.O índice de difusão — a parcela de itens que subiram no mês — até recuou em janeiro, para 73%, mas continua em patamar alto. Em dezembro, foi de 75%. Ao longo da maior parte do ano passado, durante dez meses, o indicador ficou na casa dos 60%.
Com a inflação mais disseminada, apesar de ter recuado em relação ao 0,73% de dezembro, a expectativa é que os juros fiquem em patamar alto por mais tempo. "Vemos espaço limitado para um ciclo de flexibilização este ano", disseram Solange Srour e Lucas Vilela, economistas do Credit Suisse, que projetam inflação de 6,2% em 2022 e de 3,8% em 2023, com a Taxa Selic subindo a 12,25% ao ano. Atualmente está em 10,75%.
Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, destaca que o resultado mostrou preços ainda mais pressionados dos automóveis novos e usados, por causa da falta de peças na indústria automotiva.
CARNES SUBIRAM 1,32%
Tatiana Nogueira, economista da XP, diz que a alta acentuada no preço de commodities, em especial do petróleo, pode elevar a projeção de inflação de 2022 da corretora para acima de 5,2%, dado o espalhamento da inflação:
—A abertura do IPCA de hoje se mostrou pior. Estamos revendo o nosso cenário de Selic, mas achamos que a taxa deve ficar acima de 12% ao longo de de 2022, só sendo possível cortar juros em 2023.
Para ela, somente no ano que vem a inflação vai chegar mais perto da meta, cujo teto, em 2022, é de 5%.
A defasagem de cerca de 15% no preço da gasolina frente às cotações internacionais tam bém pode levaram ais inflação, alerta Mirella:
—O número de hoje mostra que ainda estamos num dos piores momentos desses gargalos na economia. A inflação corrente incomoda e está vindo pior do que o Banco Central esperava, justamente nos itens que eles estão olhando com mais atenção. Vemos pouco espaço para o BC ritmo de elevação dos juros para menos de 1 ponto percentual —diz Mirella, que prevê IPCA em 5,8% este ano e juros em 12,25% em junho.
Dos nove grupos de serviços pesquisados, oito subiram mais em janeiro, mas os preços de alimentos foram a maior pressão: alta de 1,11%.
Diante do excesso de chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste e estiagem no Sul, o café moído ficou 4,75% mais caro no mês, o 11º avanço seguido, e acumula alta de 56,87% em 12 meses. As carnes subiram 1,32%, e os preços das frutas avançaram 3,4%.
Único a apresentar queda, o grupo Transportes puxou para baixo o índice do mês ao recuar 0,11%, após subir 0,58% em dezembro. Os preços das passagens aéreas, que historicamente recuam em relação a dezembro, caíram 18,35%. Os combustíveis ficaram 1,23% mais baratos, com a redução do preço do litro pela Petrobras em dezembro.
André Filipe Almeida, analista do IPCA, diz que a deflação de combustíveis deve ser revertida este mês, já que a estatal reajustou a gasolina em 4,85% e o óleo diesel em 8,08% para as distribuidoras em 12 de janeiro.
— Até esse reajuste de preços chegar ao consumidor final pode demorar, por isso observamos queda em janeiro..