O GLOBO, n 32.329, 10/02/2022. Política, p. 4

REVISÃO DE ESTRATÉGIA ELEITORAL

Bernardo Mello, Julia Lindner e Bruno Góes


Sob pressão no PSD, Kassab acena apoio a Lula no Iº turno

Em meio às incertezas sobre a candidatura de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao Palácio do Planalto e de acenos do presidente do PSD, Gilberto Kassab, ao projeto de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lideranças da legenda em ao menos nove estados têm se aproximado de palanques com o petista. Depois de insistir na ideia de nome próprio na disputa nacional —e, consequentemente, na formação de estruturas estaduais que pudessem dar sustentação à empreitada —, Kassab tem promovido uma reorientação de rota na estratégia. Ontem, dois dias após ter se reunido com Lula, o chefe do PSD disse que não seria “impossível” apoiá-lo já no primeiro turno.

A ideia inicial de Kassab era ter candidatos fortes em estados populosos para sustentar o nome de Pacheco à Presidência e contribuir para a eleição de uma bancada expressiva no Congresso. Além da candidatura de Pacheco não ter decolado, inclusive por falta de movimentação do próprio presidente do Senado, o “plano A” do dirigente também sofreu reveses nas articulações regionais idealizadas.

O ex-governador Geraldo Alckmin, cortejado pelo PSD, afastou-se do pleito em São Paulo e prefere ser vice na chapa de Lula. Na Bahia, onde Kassab tentou emplacar Otto Alencar como candidato ao governo, o próprio senador frisou que disputará a reeleição e apoiará a chapa do PT no estado. No Rio e em Minas, o PSD ainda pode ter candidaturas próprias, mas em arranjos que tendem a abrir palanques para Lula e Ciro Gomes (PDT).

— Se Minas vier junto (com Lula), a maior parte dos grandes colégios eleitorais estará nessa direção. Colegas de estados como Amazonas e Mato Grosso também tendem a uma unidade com Lula já no primeiro turno —resume Alencar.

Embora a pré-candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), despontasse como palanque a Pacheco, alas da sigla defendem uma aliança com Lula para dar viabilidade à empreitada. Kalil sofreu desgastes políticos neste mandato e ainda busca ser mais conhecido no interior. Seus adversários, o governador Romeu Zema (Novo) e o senador Carlos Viana (MDB), devem apoiar Bolsonaro.

No Rio, o prefeito Eduardo Paes (PSD), encarregado de articular uma candidatura ao governo, lançou o advogado Felipe Santa Cruz, mas costura aliança com Rodrigo Neves (PDT). Também há chance de mudança de rota em estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso, onde Lula tem buscado atrair políticos ligados ao agronegócio hoje aliados de Bolsonaro.

LEITE E HARTUNG CITADOS

Ontem, na filiação do vice presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), ao PSD, Kassab citou Otto Alencar, o senador Omar Aziz( PSD AM),candidato à recondução em 2022, e o deputado Fábio Mitidieri, pré-candidato ao governo de Sergipe, como favoráveis a um apoio ao PT.

— Em respeito a esses companheiros, não posso dizer que é impossível termos uma aliança em primeiro turno.

Em Sergipe, embora o PT tenha lançado o senador Rogério Carvalho ao Executivo, o governador Belivaldo Chagas (PSD) se reuniu em janeiro com Lula e busca que ele esteja também no palanque de um sucessor escolhido pelo PSD.

No Ceará, o PSD costura o posto de vice na chapa do PDT ao governo e também apoiará o governador Camilo Santana (PT) ao Senado, se inserindo em um palanque duplo. Na Paraíba, o PSD chegou a lançar o ex-prefeito de Campina Grande Romero Rodrigues, mas recuou em meio a pressões por apoio ao governador João Azevêdo, aliado de Lula.

Coma hipótese de Pacheco concorrer à Presidência cada vez mais distante, Kassab já ventilou as hipóteses de lançar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, hoje no PSDB, ou o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung —no caso de Leite, a possibilidade veio acompanhada do recado de que os candidatos nos estados teriam liberdade de atuação no pleito presidencial, o que não empolgou o ainda tucano.

Segundo o colunista Lauro Jardim, o governador gaúcho avaliou a hipótese de deixar o PSDB para concorrer ao Planalto pelo PSD como “possível, mas não provável” — já o prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth, primeiro aliado de Leite a deixar o PSDB rumo ao PSD, diz haver “60% de chance” de migração. (Colaborou Ivan Martínez-Vargas)