O GLOBO, n 32.329, 10/02/2022. Política, p. 6

Ala do Podemos incentiva ida de Moro ao União Brasil

Bianca Gomes


Deputados querem priorizar recursos da sigla nas campanhas ao Legislativo; cúpula do partido diz que manterá verba para ex-juiz

Parte da bancada federal do Podemos defende que o ex-ministro Sergio Moro seja candidato à Presidência pelo União Brasil, partido que nasceu da fusão do DEM com o PSL, aprovada anteontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo os deputados, o ex-juiz teria pedido R$ 90 milhões dos R$ 197,33 milhões a que a legenda teria direito, segundo estimativa fundo eleitoral. Na visão deles, sobraria pouco dinheiro para a campanha de candidatos ao Legislativo. Moro e a direção nacional do Podemos negam que tenha ocorrido exigência de valores.

Outro motivo apontado pelos parlamentares é a rejeição ao ex-juiz entre eleitores de regiões do país que preferem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL).

Políticos do Podemos avaliam que a campanha de Moro poderia comprometer os planos da legenda de ampliar a bancada dos atuais 11 deputados para 25. Pela regra da cláusula de barreira, para ter acesso ao fundo eleitoral o partido precisa eleger 11 deputados em 2022. Quanto mais parlamentares entrarem na Câmara, maior a fatia do dinheiro público.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-juiz disse que “é falsa” a informação sobre a exigência dos recursos. O Podemos afirmou, em nota, que está trabalhando na construção de um projeto que será apresentado ao

Brasil sob a liderança de Moro e negou a exigência do presidenciável em relação ao fundo eleitoral. “O que está em primeiro lugar é o melhor projeto que o Podemos vai oferecer aos brasileiros, tanto para a Presidência quanto para a Câmara e Senado”, diz o texto.

Deputados ouvidos reservadamente dizem que a especulação sobre a ida de Moro para o União “caiu como uma luva” e trouxe “alívio” à bancada.

Apesar disso, eles avaliam que, neste momento, é pequena a chance de o União Brasil abrigar a candidatura do ex-ministro do governo Bolsonaro. Segundo eles, o nome do ex-juiz até agrada a ala do novo partido que veio do antigo PSL, mas enfrenta forte resistência por parte de lideranças do antigo DEM. Eleito pelo PSL, o deputado Júnior Bozzella (SP) é um dos entusiastas do ex-juiz. O União Brasil não descarta ficar neutro nas eleições presidenciais.