O Estado de S. Paulo, n. 47949, 27/01/2025. Política, p. A6

PSD e PL ampliam protagonismo no Legislativo; PT fica sem presidências

Gabriel Sousa

 

 

O PSD, de Gilberto Kassab, vai chefiar quatro Câmaras em capitais. O PL, de Bolsonaro, ficou com três.

Com a posse dos vereadores eleitos em 2024, o PSD e o PL ampliaram o protagonismo no comando do Poder Legislativo das capitais do País. O PT, por sua vez, amargou um novo ciclo sem ocupar a presidência de nenhuma câmara municipal da lista.

Levantamento feito pelo Estadão e pelo Radar Governamental mostra que o PSD foi o partido que mais emplacou presidentes: vai chefiar os Legislativos de quatro das 26 capitais. No último ano da legislatura anterior, comandava apenas uma (veja quadro ao lado).

Os vereadores eleitos pela sigla foram Ricardo Vasconcelos, em Aracaju (SE), Tico Kuzma, em Curitiba (PR), Dinho Dowsley, em João Pessoa (PB), e Carlo Caiado, no Rio de Janeiro (RJ). Nas capitais do Paraná e do Rio de Janeiro, os presidentes são da mesma legenda dos prefeitos Eduardo Pimentel e Eduardo Paes, respectivamente. Em Aracaju e João Pessoa, os chefes das duas câmaras são aliados dos prefeitos Emília Corrêa (PL) e Cícero Lucena (PP).

Domínio masculino

Só duas das 26 cidades terão vereadores comandados por mulheres: Porto Alegre e Cuiabá

Todos os quatro novos presidentes são vereadores reeleitos, mas nenhum estava no PSD em 2021, no início da legislatura passada.

Assim como o partido comandado por Gilberto Kassab, o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro dirigia apenas o Legislativo de uma capital há quatro anos. Agora são três: Maceió (AL), com Chico Filho, Porto Alegre (RS), com Nádia Gerhard, e Cuiabá (MT), com Paula Calil.

Maceió e Cuiabá são governadas também por políticos do PL. Em Porto Alegre, a sigla elegeu a vice-prefeita, a tenente-coronel Betina Worm.

Nádia Gerhard e Chico Filho já são políticos experientes nas cidades onde vão presidir as câmaras até início de 2027, mas não pertenciam à sigla no pleito anterior, ao contrário de Paula Calil. Ex-presidente do PL, ela exerce agora seu primeiro mandato como vereadora.

Nádia e Paula são as únicas mulheres a chefiar câmaras municipais de capitais no biênio iniciado agora – os mandatos dos atuais presidentes e respectivas Mesas Diretoras terminam no fim de 2026. Segundo Juliana Cellupi, CEO do Radar Governamental, o número reduzido de lideranças femininas nas câmaras municipais reflete o que ocorre na sociedade brasileira.

“As mulheres em cargos de liderança, em geral, ainda estão em menor número em comparação com os homens. Temos 10.583 vereadoras mulheres em todo o País. Isso reflete o cenário geral, o que se vê inclusive em empresas”, afirmou Juliana. “É necessário haver qualificação e treinamento, além de eleger mais mulheres parlamentares.”

Além do PL, o PSB, o PSDB e o União Brasil também vão comandar os Legislativos de três capitais. Republicanos, MDB e PP estão à frente das mesas diretoras em duas cidades. PDT, PRD, Avante e Podemos presidem uma capital cada.

RELEVÂNCIA. Cabe ao presidente da câmara municipal determinar o fluxo de votações de projetos de lei e encaminhar eventuais investigações, entre outras atribuições. É um posto-chave especialmente para o prefeito ou prefeita, no trâmite de propostas de interesse da base governista, mas sua possível influência vai além, como explica o doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Leandro Gabiati. Segundo ele, os presidentes das câmaras das capitais controlam recursos financeiros importantes para os Estados. Por isso, o especialista aponta que eles podem ter papel relevante nas eleições de 2026.

“É visibilidade, exposição, negociação direta com o Poder Executivo estadual e poder de liderar a construção de coalizões eleitorais para 2026. Eles lideram a construção de chapas e dialogam diretamente com presidentes de partidos estaduais”, afirmou Gabiati.

De acordo com a coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom) Mayra Goulart, o saldo das escolhas dos presidentes das câmaras nas capitais mostrou o crescimento de uma “direita fisiológica” nos postos de comando. Já o PSB demonstrou ser a única força de esquerda com potencial de capilaridade na política das cidades.

“Na maioria dos casos, há uma harmonia de um comando da direita. Mas não é a direita bolsonarista, é uma direita fisiológica formada por lideranças tradicionais. O PSB é uma discrepância, é um partido de esquerda que tem força para eleger vereadores capazes de liderar as suas Casas”, disse Mayra.

DE FORA. Pela terceira vez consecutiva, o PT não conseguiu nenhuma presidência nos Legislativos de capitais do País. A última ocasião em que um petista conquistou o posto foi em 2019, com Antônio Morais, em Rio Branco (AC). Reeleito vereador no ano passado, Morais agora é filiado ao partido de Bolsonaro.

A única prefeitura de capital conquistada pelo PT na última eleição foi Fortaleza (CE), com a vitória de Evandro Leitão. Ali, o Legislativo será comandado por Léo Couto (PSB). Apesar de não ser filiado ao PT, o vereador construiu a carreira política como aliado do ministro da Educação, Camilo Santana.

Ao Estadão, Couto disse que não vai priorizar apenas os projetos de interesse de Leitão e que vai pautar propostas da oposição, liderada pelo PL. “Não é uma questão de priorizar projetos de interesse do prefeito, mas do cidadão. O momento é de administrar para todos os fortalezenses. A eleição passou, agora é pensar nas demandas da população.”

Para Mayra Goulart, a falta de petistas nas presidências das câmaras das capitais pode ser explicada em parte por uma estratégia da sigla para privilegiar o cenário nacional.

“O PT não está sendo mais um partido que consegue ter capilaridade nos territórios. Isso ocorre muito em virtude do partido ter feito uma opção pelo cenário nacional, uma opção por Brasília”, disse a coordenadora do Lappcom. “Ele abriu mão de ter hegemonia nesses territórios, agindo muitas vezes fortalecendo outras lideranças em troca de um apoio na Presidência e nas eleições de 2026.”

O Estadão procurou Gilberto Kassab, presidente do PSD, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, mas não obteve retorno.