O GLOBO, n 32.329, 10/02/2022. Política, p. 6

Boicotado no PSDB, Doria vê ''jantar de derrotados''

Gustavo Schmitt e Bianca Gomes


Caciques tucanos rivais do paulista, como Tasso, Aécio e Eduardo Leite, se reuniram para cobrar “plano de voo' do pré—candidato

Uma reunião de tucanos descontentes com a candidatura do governador paulista João Doria à Presidência da República voltou a elevar a temperatura interna no PSDB. O governador gaúcho Eduardo Leite negou que o encontro tenha debatido um desembarque da candidatura de Doria, mas cobrou um “plano de voo” do colega. Aliados de Doria reagiram, chamando o encontro de “tentativa de golpe”. O paulista classificou o episódio como um “jantar de derrotados”.

O evento, na casa do ex-ministro Pimenta da Veiga anteontem à noite, reuniu opositores de Doria, como o senador Tasso Jereissati (CE), o ex-senador José Aníbal (SP) e o deputado Aécio Neves (MG). Enquanto alguns demonstram simpatia em relação à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS), outros cobram uma reação de Doria, que tem patinado nas pesquisas.

— Foi um jantar de derrotados, com todo respeito. Todos eles foram derrotados nas prévias. Não me parece que cinco pessoas sentadas num jantar possam representar o PSDB — disse Doria, ontem, em entrevista à “Rádio Eldorado”.

O paulista saiu vitorioso das prévias do PSDB, em novembro, com 53,99% dos votos. Derrotado na votação interna, com 44,66%, Leite afirmou que os tucanos que estiveram no jantar mostraram preocupação com a rejeição ao nome de Doria a 45 dias de deixar o seu mandato no governo do estado. Segundo o Datafolha de dezembro, Doria tem a gestão reprovada por 38% do eleitorado. Para o paulista, os números mostram que a população ainda não está preocupada com eleição.

— Todos desejam entender qual o plano de voo, o plano de ação que o candidato (Doria) e sua equipe apresentam para reverter o quadro adverso — afirmou Leite, ao GLOBO. — Porque as prévias não deram o partido ao candidato. Deram um candidato ao partido.

De acordo com Leite, não há encaminhamento sobre desembarque da candidatura ou saída do partido. Apesar disso, aliados do gaúcho admitem que ele tem conversado com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, sobre uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto.

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, vem sendo cobrado por uma posição mais enfática sobre o assunto. Além de dirigente partidário, ele é coordenador da campanha do tucano. Araújo escreveu ontem que a legenda precisa respeitar o resultado do processo interno que escolheu Doria pré-candidato tucano.

BRIGA NAS REDES

Antes mesmo de o jantar terminar, aliados de Doria já estavam criticando a reunião nas redes sociais. “A conspiração do grupo de perdedores contra o vencedor das prévias (...) demostra que a derrota lhes subiu à cabeça. É uma tentativa amadora de golpe, um ataque infantil ao processo democrático. É uma tentativa de tapetão”, escreveu o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Carlão Pignatari.

Cauê Macris, secretário da Casa Civil do governo paulista, disse que ao invés de se reunirem para planejar o futuro do Brasil, os tucanos se juntaram em jantar para “tentar sabotar o próprio partido”. Já Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional da gestão estadual, disse que está convencido que Doria é a “melhor alternativa para o Brasil”.