Correio Braziliense, n. 22667, 12/04/2025. Cidades, p. 13

54 mil alunos dependem da merenda
Henrique Sucena



Moradora da Cidade Estrutural e mãe de três filhos, Auxiliadora de Moraes trabalha com serviços gerais e, como outras mulheres da região, enfrenta adversidades para manter todos em casa bem nutridos. Seu trabalho em serviços gerais e o do marido, como motorista, nem sempre são o suficiente para colocar comida na mesa. O alívio vem da escola, onde as crianças, de 15, 13 e 11 anos, têm duas refeições garantidas a cada dia de aula.

No Distrito Federal, de acordo com a Secretaria de Educação (SEEDF), vivem em áreas de vulnerabilidade 52,7 mil alunos, que recebem duas refeições por dia de aula. Auxiliadora conta que durante fins de semana e nas férias, o aperto financeiro aumenta. "Quando não tem a escola, fica complicado, porque o gasto é bem maior. A gente vai se apertando e cortando uma coisa aqui, outra ali. A gente corta a carne e as frutas, por exemplo. Eles ficam ansiosos para ir comer na escola, nunca reclamaram. Inclusive, meu caçula diz que a paixão dele é o estrogonofe da escola", relata.

Diretora da Escola Classe (EC) 02 da Estrutural, onde o filho mais novo de Auxiliadora estuda, Maria Leodenice Alves comenta que ela e outros funcionários veem as dificuldades que as crianças passam com a alimentação. Ela observa estudantes chegando com fome, ansiosos para o primeiro lanche, e diz que muitos têm na escola suas únicas refeições.

"A nossa escola está situada em uma área de grande vulnerabilidade social e econômica. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dessa cidade é o mais baixo de todo o DF. A nossa clientela é de crianças de 5 a 11 anos, de famílias de baixa renda, que vivem numa situação de vulnerabilidade social e econômica um pouco grande", descreve.

Maria Leodenice explica que os alunos da manhã e da tarde recebem almoço e lanche. As turmas comem em suas chegadas. Para ela, a alimentação balanceada fornecida na escola é de suma importância para a comunidade como um todo, por ajudar no desenvolvimento cognitivo das crianças que estão em fase de crescimento.

Desenvolvimento pleno

Ao Correio, a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, adianta que, para 2025, "com a criação da Gerência de Supervisão Técnica e Educação Nutricional, a meta é expandir as ações de educação alimentar e nutricional, além de realizar o rastreamento para identificar a prevalência de desnutrição e obesidade dos estudantes do DF".

O orçamento da alimentação escolar este ano no DF é de R$ 221,5 milhões. O GDF arca com a maior parte — RS 189,1 milhões (85,4%). O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) repassa R$ 32,4 milhões.

Assim como Auxiliadora, outras mães da EC 02 agradecem pela alimentação servida. Lucilene Rodrigues faz faxinas, tem quatro filhos e mora sozinha com três deles. Ela conta que falta carne constantemente na geladeira, algo que os filhos não precisam enfrentar quando vão à escola. "A merenda é muito fundamental. Faz muita falta, principalmente nos finais de semana. A verdade é que nós não conseguimos dar a justa alimentação todos os dias como a escola dá. A gente sente isso. As crianças sentem."

A nutricionista materno-infantil Flávia Cristina Oliveira explica que, nos primeiros anos de vida, as crianças estão em fase de rápido crescimento físico. Por isso, é vital uma dieta equilibrada, que garanta os nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais, proteínas e gorduras saudáveis. "Uma alimentação saudável é crucial para garantir que as crianças se desenvolvam plenamente, tanto fisicamente quanto cognitivamente", aponta a nutricionista.

Preparo

Diariamente, a secretaria fornece 509,6 mil refeições para os matriculados do ensino infantil a educação de jovens e adultos (EJA). Quem frequenta um turno (cinco horas), pode fazer uma ou duas refeições. Em escolas com contraturno (oito horas), pode ter três refeições. Para os da educação integral (10 horas), são quatro refeições.

As refeições são planejadas pela equipe de nutricionistas. A SEEDF compra 60 gêneros alimentícios para garantir um cardápio saudável, tais como carnes e outras proteínas perecíveis, arroz, feijão, macarrão e flocão. Também adquire 34 variedades de frutas e verduras, oriundas da agricultura familiar, além de queijo e manteiga.

Nutricionista da SEEDF, Thalita do Carmo Pereira detalha que o cardápio é montado de forma minuciosa, para atender à segurança alimentar e nutricional dos alunos, com base em critérios técnicos e científicos. Entre outros aspectos, são levadas em consideração as normas do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), a sazonalidade e a regionalidade dos itens.

"Sempre que necessário, são realizados testes de aceitabilidade, os estudantes experimentam os pratos e oferecem feedback. Isso contribui para ajustar o cardápio, respeitando preferências alimentares e incentivando a introdução de novos alimentos de maneira gradual", assinala a nutricionista. Thalita complementa que ainda há casos especiais, onde os estudantes precisem de adaptações às refeições devido a alergias ou intolerâncias.