Correio Braziliense, n. 22668, 13/04/2025. Política, p. 5
Brasil e Paraguai apuram espionagem/
Victor Correia
O governo federal iniciou uma investigação sobre o ataque hacker da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que mirou autoridades do Paraguai entre 2022 e 2023. Em paralelo, o país vizinho lançou a própria investigação com o objetivo de identificar se houve acesso a informações confidenciais e se isso foi usado pelo Brasil para obter vantagens nas negociações sobre a Itaipu Binacional.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, garantiu que os resultados do inquérito serão apresentados para o governo paraguaio, em uma tentativa de amenizar a crise que se instaurou com a revelação do caso. Ele se reuniu com o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, às margens da Cúpula de Chanceleres do Mercosul, que ocorreu em Buenos Aires, Argentina, na quinta-feira passada.
“Os ministros discutiram, também, as apurações em curso no Brasil para esclarecer operação de inteligência determinada previamente em relação ao Paraguai, cujos resultados serão comunicados às autoridades paraguaias tão logo sejam tornados públicos”, disse o Itamaraty, em comunicado sobre o encontro nas redes sociais.
Segundo matéria do portal Uol, a Abin lançou uma operação de espionagem contra autoridades paraguaias entre junho de 2022 e março de 2023. Agentes do órgão teriam invadido computadores do Congresso paraguaio e de outras autoridades usando o programa Cobalt Strike para tentar obter informações confidenciais sobre as negociações da Itaipu, de forma a obter vantagens para o governo brasileiro.
O caso foi revelado durante investigação da Polícia Federal (PF) sobre irregularidades na Abin durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com os investigadores, a ação hacker foi planejada durante o governo Bolsonaro, mas executada já no governo Lula.
Em nota, o Itamaraty confirmou a existência da operação, mas negou qualquer envolvimento do atual governo. Segundo o ministério, a ação foi encerrada assim que descoberta, em março de 2023. Mesmo assim, o Paraguai convocou para explicações o embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, e seu embaixador em Brasília, Juan Ángel Delgadillo.
No Brasil, o caso está sendo investigado pela PF. Porém, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados aprovou requerimentos de informações ao Itamaraty e à Casa Civil para esclarecer se o atual presidente da Abin, Luiz Fernando Corrêa, tinha conhecimento da operação.
Já o Paraguai abriu uma investigação por meio de seu Ministério Público e vê indícios no caso de acesso indevido a dados, acesso indevido a sistemas informáticos, e interceptação de dados.