O GLOBO, n 32.329, 10/02/2022. Economia, p. 14

Pre­si­dente do Bra­desco: juros são 'proi­bi­ti­vos'

João Sorima Neto


Octavio de Lazari afirma que taxas chegam a 15% ao ano e é difícil investir em um negócio que ofereça retorno acima desse patamar, impedindo que as empresas tomem empréstimos de longo prazo 

O presidente executivo do Bradesco, Octavio de Lazari, afirmou ontem que o atual patamar da taxa de juros Selic, em 10,75% ao ano, torna "proibitiva" a tomada de empréstimos de longo prazo, de até dez anos, para que grandes empresas façam novos investimentos no país. O executivo lembrou que os juros futuros já estão em 12% e, com o dos bancos (taxa cobrada pelo empréstimo), chegam ao patamar de 15%.

— Há uma preocupação das empresas em tomar linhas de crédito com uma taxa de juros desse tamanho para fazer grandes investimentos num ano de eleições. A taxa é proibitiva. É difícil ter um negócio que ofereça um retorno maior que esse patamar de juros —disse Lazari durante apresentação dos resultados do banco de 2021.

É a primeira vez em cinco anos que o Banco Central elevou a Selic, referência para outras taxas de juros do mercado, acima dos 10%.

O presidente do Bradesco lembrou que 40% da carteira de crédito do banco são destinados a grandes empresas. No fim do ano passado, em conversa com esses clientes, o banco constatou uma diminuição no ritmo de tomada de crédito.

Lazari afirmou que as empresas continuam tomando empréstimos de curto prazo para capital de giro ou para reforçar o estoque.

— Mas não há notícias das companhias anunciando grandes investimentos. Além dos juros, o cenário político e econômico, com inflação alta e taxa de câmbio valorizada, tira o apetite dos empreendedores para tomar crédito de longo prazo —afirmou.

CANAIS DIGITAIS

No ano passado, a carteira de crédito destinada a grandes empresas cresceu 11%. Já entre as micro, pequenas e médias empresas, o crescimento foi de 24,5%. A carteira expandida (que inclui todos os tipos de crédito) do banco cresceu 18,3% em 2021. Para este ano, o Bradesco reduziu a expectativa de crescimento para entre 10% e 14%.

Lazari também vê impacto negativo na oferta de financiamento imobiliário, já que as taxas de juros nessa linha estão em cerca de 10% ao ano. No ano passado, o crédito imobiliário no Bradesco cresceu 31,2%.

O executivo observou que a liberação de crédito por canais digitais representou 30% no ano passado, chegando a R$ 88,2 bilhões. Trata-se de uma mudança nos negócios do banco, com adoção de tecnologia intensiva e transformação cultural dos clientes.

Entre 2020 e 2021, o Bradesco transformou agências em unidades de negócios, com estruturas mais enxutas. Este ano, esse movimento deve continuar e chegar a 500 agências, anunciou Lazari.

Em 2021, o Bradesco teve lucro líquido de R$ 26,2 bilhões, um recorde histórico anual. O resultado foi 35% superior ao de 2020. Este ano, mesmo com previsão de expansão menor para a economia, o Bradesco projeta novo crescimento.

AÇÕES CAEM MAIS DE 8%

No quarto trimestre de 2021, o lucro do banco foi de R$ 6,6 bilhões, 2% menor do que no mesmo período do ano passado. Analistas do banco UBS consideraram "decepcionantes" os ganhos trimestrais. Com isso, as ações do Bradesco tiveram a maior queda do Ibovespa: 8,80%.

Para este ano, o UBS projeta ganhos menores para o Bradesco.