Correio Braziliense, n. 22673, 18/04/2025. Política, p. 3

Glauber aceita acordo e greve acaba
Wal Lima
Francisco Arthur de Lima


Depois de nove dias somente à base de bebidas isotônicas, o federal Glauber Braga (PSol -RJ) encerrou, ontem, a greve de forme que mantinha desde que a cassação do mandato do parla mentar foi aprovada pela Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, em 9 de abril, por 13 x 5. Ele suspendeu o jejum depois de ter acertado com o presidente da Casa, Hugo Motta (Re publicanos-PB), que o processo de cassação não chegará ao Plenário nos próximos 60 dias.

“Estou suspendendo a greve de fome, mas não estamos suspendendo a luta contra o secreto. Não estamos suspendendo a luta pela responsabilização dos assassinos de Marielle (Franco). Não estamos suspendendo a luta pelos golpistas de plantão. A suspensão dessa greve vem de pois de uma sinalização importante contra a perseguição que aqui se estava operando. Não preciso mais falar do que estava acontecendo aqui”, frisou Glauber.

Esse prazo garantirá a Braga a construção de uma linha de defesa que convença os demais de que não deve perder o mandato, conforme explicou Motta. O acordo foi anunciado pelo presidente da em seu perfil oficial no X (antigo Twitter).

Aliados de Glauber têm se revezado em visitas na sala da Comissão de Ética — ontem, foi a vez de, entre outros, o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (RJ), e Luiza Erundina (PSol-SP). Para a deputada Sâmia Bonfim (PSol-SP), mulher de Braga, o esforço para evitar a cassação será redobrado.

“De acordo com o movimento que se teve no Conselho de Ética, teria-se uma grande mobilização para que essa cassação fosse viabilizada. Foi graças a essa mobilização e a esse diálogo com o presidente Hugo Motta que foi possível a garantia de, no mínimo, 60 dias, a partir do segundo semestre, para que isso seja apreciado no plenário. Isso nos garante tempo para dialogar e apresentar toda argumentação jurídica na defesa de Glauber. Vamos fazer de tudo para não cassarem. Deixar claro que seu mandato é muito importante, mas, mais importante, é você com saúde e vivo para cumprir sua missão”, afirmou Sâmia.

Segundo a deputada, “se o Glauber não fizesse essa greve de fome, esse ato político, talvez após este feriado de Páscoa ele já voltasse com o mandato cassado”.

Oposicionistas

O Conselho de Ética é, em sua maioria, composto por parlamentares  da  oposição.  O processo foi aberto porque Glauber agrediu o militante do Movimento Brasil Livre Gabriel Costenaro, em abril de 2024. Durante uma discussão, ambos trocaram ofensas e subiram o tom. Segundo o parlamentar do PSol, o integrante do MBL fez um comentário sobre sua mãe, a ex-prefeita de Nova Friburgo (RJ) Saudade Braga, que o ofendeu. A relatoria no colegiado coube ao Paulo Magalhães (PSD-BA) — cujo parecer pediu a cassação.

Glauber acusa o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de estar por trás do movimento para que perca o mandato. Segundo o parlamentar fluminense, a animosidade entre eles começou depois que denunciou o secreto. Além disso, uma ação do PSol junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) possibilitou que o Flávio Dino deliberasse sobre uma manobra da para que a falta de transparência permanecesse na destinação de emendas parlamentares. O magistrado manteve os recursos bloqueados e irritou boa parte dos parlamentares. Caso Glauber perca o mandato, assume sua suplente, a ex-senadora Heloísa Helena (Rede -AL).

Frase

“Não estamos suspendendo a luta pelos golpistas de plantão. A suspensão dessa greve vem depois de uma sinalização importante contra a perseguição que aqui se estava operando”

Deputado Glauber Braga (PSol-RJ)