Correio Braziliense, n. 22676, 21/04/2025. Política, p. 4
Estratégia anti-anistia
Maiara Marinho
O Palácio do Planalto ainda não deixou clara a estratégia a que recorrerá para impedir o avanço do projeto de lei que pede anistia para os condenados pela tentativa de golpe do 8 de Janeiro. Com a possibilidade de a oposição recrudescer o movimento de obstrução a pautas de interesse do governo — sobretudo o PL que isenta quem ganha salário de até R$ 5 mil do pagamento de Imposto de Renda —, são duas as apostas entre os aliados: o presidente dar início a uma minirreforma no primeiro escalão ou cobrar que ministros do Centrão intervenham junto às bancadas para sepultar a anistia.
A possibilidade de discutir a dosimetria das penas aos golpistas, como sinalizar a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, está afastada. A reação negativa dos ministros do Supremo Tribunal Federal levou ao abandono da ideia. Para os integrantes do STF, seria uma descortesia com a Corte e a capitulação do governo à versão bolsonarista de que as penas são exageradas.
Segundo Rodrigo Prando, cientista político e professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, a negociar a dosimetria tiraria a “liderança do golpe de Bolsonaro e daqueles que serão julgados da última denúncia aceita pelo Supremo”.
O líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcanti (RJ), anunciou que procurará os líderes do PSD, do PP e do União Brasil para que estejam ao lado deles no Colégio de Líderes a fim de aumentar a pressão sobre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos PB), para que coloque o projeto da anistia para andar, conforme prevê o requerimento de urgência. O Palácio do Planalto pretende jogar também nesta seara para impedir que o texto avance.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que os ministros do PP, do União e do PSD entrem em campo para barrar a anistia. Mas tal esforço tem tudo para não dar o resultado esperado pelo Palácio.
Para o cientista político Sérgio Praça, a oposição no Congresso está ganhando.
“A discussão da anistia é um tema que interessa somente à oposição bolsonarista e é isso o que a gente está discutindo há semanas já. O governo cometeu um erro ao superestimar a lealdade dos deputados da base”, observou.