O GLOBO, n 32.330, 11/02/2022. Saúde, p. 19
EPIDEMIA À VISTA
Giulia Vidale
No embalo da temporada de chuvas, casos de dengue sobem 48% no país
Dados do Ministério da Saúde, do boletim Infodengue da Fiocruz e das secretarias municipais e estaduais de saúde indicam que o Brasil corre grande risco de enfrentar uma epidemia de dengue este ano. Em janeiro, segundo boletim do governo federal, foram registrados 40.127 casos da doença no país, uma alta de 48,1% em relação ao mesmo período de 2021. A região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de incidência da doença, seguida do Norte, Sudeste, Sul e Nordeste.
Para o infectologista Antonio Carlos Bandeira, coordenador do serviço de infectologia do Hospital Aeroporto, na Bahia, e professor da UniFTC Salvador, três fatores contribuem para a possibilidade de uma epidemia da doença no país: a intensa quantidade de chuva, a própria sazonalidade da dengue e a circulação simultânea de dois sorotipos.
— A cada três anos vemos um aumento mais significativo de casos de dengue. Em 2016 registramos muitos casos, depois em 2019. Então 2022 estaria na mira — explica Bandeira — Também temos os sorotipos 1 e 2 circulando na maior parte do país, isso aumenta ainda mais o risco de contaminação.
O padrão temporal da doença ainda não foi totalmente compreendido pela ciência, mas sabe-se que está relacionado à alternância dos quatro sorotipos existentes no país e o ciclo de imunidade adquirida pela população.
REGIÕES CRÍTICAS
Indicadores do InfoDengue, sistema de monitoramento de arboviroses desenvolvido pela Fiocruz e pela FGV, indicam pontos de atenção de dengue no Brasil. Surpreendentemente, a região Sul é apontada como uma das principais áreas de atenção em 2022, com tendência de alta da doença.
O estado mais crítico é Santa Catarina. Entre o início dezembro e a segunda semana de janeiro, foram 1.288 casos. A capital Florianópolis e Joinville, cidade da região metropolitana com o maior PIB do estado, já enfrentam epidemias da doença.
Outros locais em situação de atenção são o noroeste de São Paulo, a região entre Goiânia e Palmas, passando pelo Distrito Federal, e municípios da Bahia e do Ceará.
O Distrito Federal registrou aumento de 212% de casos de dengue nas duas primeiras semanas de janeiro, em comparação com o mesmo mês de 2021. A secretaria de Saúde emitiu um alerta para o aumento do índice de infestação de focos do Transmissor da doença. Goiânia registrou 3.700 casos prováveis de dengue. Em comparação com a última semana do ano passado, houve alta de 930,6%.
Segundo o InfoDengue, em janeiro, o estado de São Paulo registrou 11.955 casos da doença. Na última semana do mês, dez cidades estavam em situação de epidemia.
Na capital paulista, os casos de dengue cresceram mais de 260% em 2021 em relação a 2020. As notificações da doença este ano no município ainda são inferiores ao mesmo período de 2021. Entretanto, especialistas alertam que a pior época de transmissão da doença é justamente agora.
Em Porto Alegre e Belo Horizonte, ainda não há aumento da incidência da doença, mas foram identificados muitos focos de infestação do mosquito transmissor, o que acendeu o alerta das autoridades de saúde.
A dengue, assim como a zika e a chikungunya, é transmitida pela picada de mosquito. O vetor prolifera em ambientes quentes e úmidos, o que torna o período de verão mais favorável à sua disseminação. Este ano, ainda há a simultaneidade com a onda da variante Ômicron da Covid-19, cujos sintomas também podem se confundir com a doença
"A cada três anos vemos um aumento significativo de casos de dengue. Em 2016 registramos muitos casos, depois em 2019. Então, 2022 estaria na mira. Também temos os sorotipos 1 e 2 circulando no país, o que aumenta ainda mais o risco de contaminação" _
Antonio Carlos Bandeira, infectologista