O GLOBO, n 32.331, 12/02/2022. Política, p. 4
Apoiadores do presidente usam invasão de igreja para atacar PT
Perfis bolsonaristas no Twitter usaram o episódio da invasão liderada pelo vereador petista Renato Freitas à igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, ocorrida no último sábado no centro histórico de Curitiba, para atacar o PT e acusar o partido de intolerância religiosa. O protesto ocorreu em reação à morte do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, no Rio.
Um levantamento da Arquimedes identificou 131 mil posts feitos entre os dias 7 e 10 de fevereiro. O agrupamento bolsonarista correspondeu a 88% do debate. Os perfis criticaram a atitude de Freitas pedindo até sua prisão. Além das reclamações sobre a atitude do vereador, bolsonaristas mobilizaram acusações como a de que o PT seria contra valores cristãos.
Outro grupo que tratou do tema na rede social foi o Movimento Brasil Livre (MBL), que apoia Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência da República. Eles também aproveitaram o caso para criticar o PT, mas representaram apenas 7% dos perfis.
Completando o debate, um agrupamento de perfis de esquerda, com 5%, também se manifestou em tom crítico à ação do vereador. Além de desaprovarem sua atitude, reclamaram da oportunidade dada a bolsonaristas para criticarem o segmento.
Segundo o pesquisador Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes, o episódio dá o tom da estratégia que seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PL) tenderão a adotar para pautar o debate eleitoral este ano.
—O fato é que Bolsonaro e seus apoiadores aproveitarão todas as oportunidades de tentar resgatar o antipetismo para o debate —disse Bruzzi.
MORO: LINHA AUXILIAR
Ele avalia que a estratégia também pode ser usada por apoiadores do ex-juiz Moro.
— 'Moristas' também vêm contribuindo na tentativa de dar alcance ao antipetismo, mas não conseguem ser mais autênticos que Bolsonaro. No fim, servem como linha auxiliar do bolsonarismo — completa o pesquisador.
A maior parte do debate sobre o protesto na igreja se concentrou na segunda-feira. Com a polêmica envolvendo a defesa da descriminalização do nazismo, feita pelo então apresentador do podcast "Flow" Bruno Aiub, o Monark, e pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), o assunto em torno do vereador petista acabou perdendo força.