O GLOBO, n 32.331, 12/02/2022. Economia, p. 13
Presidente do BC projeta pico de inflação entre abril e maio
Fernanda Trisotto
Quebra de safra e avanço da cotação do petróleo no mercado internacional levaram autoridade monetária a rever projeção, explica Roberto Campos Neto
O Banco Central estima que haverá um pico de inflação entre abril e maio, e não mais entre dezembro e janeiro, afirmou ontem o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, em evento promovido pelo think tank Esfera Brasil, em São Paulo.
— A gente imagina (o pico de inflação) alguma coisa entre abril e maio e depois uma queda um pouco mais rápida da inflação — afirmou Campos Neto.
Essa mudança da projeção foi motivada pela alta do preço do petróleo e a quebra de safra no sul do país:
— Tinha uma percepção que a gente ia ver o pico de inflação em dezembro janeiro. Aí a gente viu uma quebra de safra, que não é pouco relevante. A gente estava vendo o petróleo indo para 60 (dólares), mas ele voltou (a subir) e está acima de 90 (dólares). Isso gerou uma quebra de percepção em relação ao que era o pico.
MONITORAR OUTROS PAÍSES
A avaliação do BC é que a inflação no país está persistente. Por isso a autoridade monetária vem promovendo a elevação de juros. Atualmente, a Taxa Selic está em 10,75% ao ano, mas o mercado já aposta que pode fechar 2022 acima de 12%, o que foi reforçado após a divulgação, nesta semana, da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
E, em janeiro, o IPCA ficou em 0,54%, a maior taxa para o mês desde 2016, quando atingiu 1,27%. Em 12 meses, a alta acumulada do IPCA, usado na meta oficial do BC, é de 10,38%. O teto da meta deste ano é de 5%.
Ao comentar sobre o comportamento da inflação em outros países, como os Estados Unidos e os emergentes, Campos Neto destacou que o BC saiu na frente ao elevar a taxa de juros e que agora terá de monitorar tanto o ciclo inflacionário como a dinâmica dos juros em outras nações.
— Entendíamos que haveria um elemento mais persistente (de inflação) e saímos na frente. É verdade que a memória inflacionária no Brasil faz também com que a função de reação do Banco Central seja um pouco diferente, mas achamos que estamos mais acelerados no ciclo. Vai depender muito agora de como isso se comporta no mundo desenvolvido, principalmente Estados Unidos —disse Campos Neto.
No fim de janeiro, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou que deve elevar a taxa de juros do país na reunião marcada para março.