O GLOBO, n 32.330, 11/02/2022. Política, p. 7

Indefinição em SP trava ida de Alckmin ao PSB
Eduardo Rodrigues e Julia Lindner


Historicamente próximo de Márcio França e em “noivado” para ser vice do PT de Fernando Haddad, ex-governador já prometeu subir nos dois palanques se não houver acordo entre as siglas. Nova reunião sobre federação partidária manteve impasse

Amigo de Márcio França (PSB), que foi seu vice-governador em São Paulo, e em vias de selar acordo para ser vice do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin tenta se equilibrar em meio ao impasse entre os dois partidos no estado. Segundo aliados de Alckmin, a indefinição sobre as pré-candidaturas de França e Fernando Haddad (PT) a governador é um dos motivos que travam seu ingresso no PSB. Ele foi convidado a se filiar ao partido em 13 de dezembro.

O ex-governador poderia ainda ser vice de Lula por outro partido —ele tem convite para se filiar ao PV e ao Solidariedade. Petistas chegaram a especular que ele poderia se filiar ao PSD, mas as conversas não avançaram. Alckmin tem conversado tanto com França quanto com Haddad. Disse a eles que subirá no palanque dos dois caso nenhum desista — mas tem defendido que o melhor é haver um acordo.

— É essa indefinição que está travando a ida dele ao PSB. O Alckmin é amigo dos dois. Só o tempo vai resolver — diz Pedro Tobias, aliado de Alckmin e ex-presidente do PSDB em São Paulo.

França disse ontem que se a federação entre PT e PSB não sair, ele pode enfrentar Haddad nas urnas. Ele diz acreditar que herdaria os eleitores de Alckmin:

— É mais fácil o eleitor do Alckmin migrar para uma direção mais intermediária, como a minha, do que para uma direção mais arrojada de votar com o PT — afirmou, em entrevista à “CNN Brasil”.

Dirigentes de PT e PSB voltaram a conversar ontem sobre a federação. O número de assentos que caberiam aos socialistas, além de impasses na composição de palanques estaduais, mantém as negociações estacionadas. Na reunião, ficou decidido que a situação de cada estado passará a ser tratada individualmente, em vez de tentarem desatar todos os nós de uma só vez.

— É mais difícil federação do que acertos estaduais — disse França.

O socialista citou a situação do Rio, em que o PSB indicou ao governo o deputado Marcelo Freixo, que tem o apoio de Lula, mas sofre rejeição do grupo do prefeito Eduardo Paes e até mesmo de dentro do PSB — o também, o deputado Alessandro Molon quer ser candidato ao Senado.

—O PT pode falar: “Não pode indicar governador, senador, todos os cargos.” No Rio a gente tem o Molon, que tem uma representatividade histórica no PSB. É preciso que todos se acertem para entregar ao Lula um pacote completo.

MUDANÇAS BUROCRÁTICAS

O PSB sugeriu que a assembleia do grupo considere em sua composição, além do número de deputados de cada partido da federação, a quantidade de prefeitos e vereadores eleitos por cada partido em 2020. O PSB ganharia certa vantagem, já que elegeu 250 prefeitos, contra 179 petistas.

Sem consenso, um novo encontro para tratar das regras está previsto para daqui a cerca de dez dias.

Outro ponto de divergência envolve proposta do PSB para que a maioria qualificada dos votos na assembleia da federação corresponda a quatro quintos de seus membros. O PT defende a formação de maioria por dois terços.

Entre questões consensuais está considerar como “candidaturas natas” a reeleição de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em 2024.