Correio Braziliense, n. 22680, 25/04/2025. Brasil, p. 12

Ministras no Brics debatem ações contra a brutalidade


Com o objetivo de centralizar a agenda de igualdade de gênero nos debates sobre desenvolvimento econômico e inovação sustentável entre os países do Brics, o Ministério das Mulheres promoveu, ontem, a Reunião Ministerial de Mulheres do Brics. Segundo a ministra Cida Gonçalves (Mulheres), apesar de o encontro ter girado em torno de três temas — “Mulheres, Desenvolvimento e Empreendedorismo”, “Governança Digital: Misoginia e Desinformação” e “Empoderamento das Mulheres, Ação Climática e Desenvolvimento Sustentável” —, a grande preocupação é relacionada ao uso de tecnologias digitais, redes sociais e os efeitos do mau uso da inteligência artificial (IA).

Conforme destacou, esses fatores amplificaram a violência contra mulheres. Cida salientou, ainda, a preocupação do avanço da “misoginia nas redes sociais e a forma como a inteligência artificial e as fake news têm atingido as mulheres”. A ministra citou como um dos efeitos diretos disso o aumento significativo de casos de feminicídio no Brasil, que ela classificou como uma “epidemia”.

Para Cida, as leis sancionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também ontem, refletem a necessidade de atualizar o arcabouço jurídico brasileiro diante de novas formas de violência. “As duas leis, tanto a da inteligência artificial quanto a da tornozeleira eletrônica, vêm complementar a Lei Maria da Penha. Em 2006 [ano em que a Lei Maria da Penha foi sancionada], não tínhamos rede social. A gente não imaginava que ia ser isso que está acontecendo”, lamentou.

A reunião das mulheres do Brics enfatizou, também, a inserção feminina nos espaços de poder — sobretudo no setor financeiro.

“Esse é o debate que queremos fazer. Que não seja só uma, como a gente tem no Banco do Brasil. É estar nas bolsas de valores, nos lugares onde está todo o centro financeiro e a discussão sobre o desenvolvimento”, defendeu a ministra.

Cida chamou atenção para a persistente desigualdade salarial — no Brasil é ainda em torno de 20,9% — e destacou acordos de cooperação com países como China e Emirados Árabes Unidos. Segundo a ministra, apesar das diferenças culturais, há oportunidades de aprendizado mútuo.

Pelo Brasil, participaram, junto com Cida Gonçalves, as ministras Anielle Franco (Igualdade Racial), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Esther Dweck (Gestão e Inovação). A primeira-dama Janja também esteve presente aos debates. (DR)

“Red pills” e “Incels”

Crescem na web os grupos de ódio às mulheres e que as culpam pelo suposto declínio da masculinidade. Os “red pills” propõem a submissão feminina. Outra preocupação das entidades de direitos das mulheres são os grupos de “incels”, contração das palavras em inglês “involuntary celibates”. Os “celibatários involuntários” definem-se como incapazes de achar uma parceira, apesar de desejarem tê-la, e as culpam por isso. Esse é um dos temas da minissérie Adolescência, cujos panos de fundo são a influência das redes sociais sobre os adolescentes e as frustrações sexuais, que podem levar a atos extremos contra as mulheres.