O GLOBO, n 32.331, 12/02/2022. Economia, p. 15

Temor de conflito na Ucrânia leva petróleo a bater US$ 95

Vitor da Costa


No fim do pregão, barril do Brent fecha a US$ 94,44, alta de 3,3%. Bolsa brasileira perde fôlego, mas encerra em leve alta de 0,18%. Dólar fica estável a R$ 5,24

O acirramento das tensões entre a Rússia e a Ucrânia, depois que os Estados Unidos levantaram a hipótese de um confronto, piorou ontem o humor dos investidores. As Bolsas americanas tiveram fortes perdas, e o barril do petróleo tipo Brent atingiu a marca dos US$ 95, o que não ocorria desde 2014, para encerrar a US$ 94,44.

Governos ocidentais elevaram o tom dos alertas sobre o risco de uma invasão russa na Ucrânia. Washington pediu que todos os cidadãos americanos deixem a Ucrânia em até 48 horas.

A tensão também impactou o mercado brasileiro, mas em menor escala. O Ibovespa encerrou com alta de 0,18%, aos 113.572 pontos, mas chegou a ter valorização superior a 1,3%, aproximando-se dos 115 mil pontos.

Na semana, houve alta de 1,18%, a quinta consecutiva de ganhos.

Já o dólar comercial fechou estável, a R$ 5,2414, após ter operado abaixo dos R$ 5,20. Na semana, recuou 1,49%.

— O que mudou o movimento foi o aumento da percepção de medo com a invasão da Ucrânia. O mercado, agora, está começando a precificar uma invasão —afirmou Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo.

Em Nova York, o índice Dow Jones cedeu 1,43%, enquanto o S&P 500, mais amplo, perdeu 1,90%. A Bolsa Nasdaq caiu mais: 2,78%.

André Querne, sócio da Rio Gestão, ressalta que o Ibovespa não sofreu o mesmo impacto do mercado americano por ter uma forte presença de empresas ligadas a commodities, como a Petrobras, que se beneficiou da alta do petróleo no dia.

As cotações do óleo no mercado internacional subiram mais de 3%. O barril do Brent, que durante o pregão atingiu US$ 95 pela primeira vez desde 2014, encerrou com alta de 3,31%, a US$ 94,44. Já o do WTI avançou 3,58%, a US$ 93,10. Ambos tiveram a oitava semana consecutiva de ganhos.

Os preços da commodity já vinham subindo nas últimas semanas, devido a especulações de que a demanda superará a oferta à medida que a economia global se recupere da pandemia.

ITAÚ E IBC-BR: POSITIVOS

Para Querne, a tendência é que a valorização do petróleo se acelere no caso de uma invasão. O banco Goldman Sachs, por exemplo, prevê que o barril chegue aos US$ 100 até o terceiro trimestre.

— Essa alta do petróleo nos últimos meses ocorre tanto pela questão da recuperação econômica e um descasamento entre demanda e oferta quanto por toda essa questão geopolítica —diz Querne.

Além do petróleo, commodities como o gás natural, o trigo, do qual a Ucrânia é grande produtor, e os fertilizantes podem sofrer com a alta dos preços. Isso, lembra Querne, terá impacto inflacionário no mundo inteiro.

No Ibovespa, a alta do petróleo puxou as ações da Petrobras. As ordinárias (ON, com direito a voto) avançaram 4,49%, a R$ 37,20, e as preferenciais (PN, sem voto) subiram 4,07%, a R$ 33,76.

Outras empresas do setor se beneficiaram. Os papéis ON da PetroRio tiveram alta de 4,24%, a R$ 25,80, e os da 3RPetroleumon avançaram 2,13%, a R$ 39,37.

Mas a maior alta do Ibovespa ontem foi do Itaú Unibanco: as ações ON encerraram com valorização de 5,91%, a R$ 26,53. Já os papéis PN subiram 4,26%, a R$ 10,52, o terceiro maior ganho do índice.

Esse movimento refletiu o resultado positivo do banco no quarto trimestre, que superou as expectativas do mercado. O Itaú registou lucro recorrente de R$ 7,159 bilhões no quarto trimestre, alta de 5,6% ante o trimestre anterior e de 32,9% em relação ao mesmo período de 2020.

No cenário interno, os investidores levaram em conta também o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado pelo Banco Central. Considerado a“prévia do PIB”, o IBC-Br fechou 2021 com crescimento de 4,50%.