O GLOBO, n 32.331, 12/02/2022. Mundo, p. 18
Boric faz sondagens para convidar Lula a sua posse
Janaína Figueiredo
Bolsonaro se recusou a comparecer à cerimônia, e futuro presidente do Chile já estaria apostando em possível vitória do petista em outubro
Após o presidente Jair Bolsonaro ter recusado o convite para ir a Santiago no próximo dia 11 de março, para a posse do presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, colaboradores do chileno fizeram sondagens com a equipe de campanha para convidar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação foi confirmada ao GLOBO por fontes brasileiras e chilenas.
Segundo as fontes brasileiras, o ex-presidente, que celebrou a eleição de Boric em dezembro passado, não deve aceitar o convite, já que não considera “prudente” ir a posses presidenciais. Mas o desejo de Boric, disseram fontes chilenas, seria já começar a conversar com Lula sobre futuras alianças, confiando em que o ex-presidente vencerá a eleição brasileira este ano. O ex-chanceler Celso Amorim, principal assessor internacional de Lula, também foi convidado para reuniões em Santiago, às quais não poderá comparecer porque acompanhará o ex-presidente em sua viagem ao México, em março.
EXPECTATIVAS
O México é outro país da região que já faz claras sinalizações a favor de uma mudança de governo no Brasil e da eventual volta de Lula ao poder. Além do convite ao ex-presidente e da viagem da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2021, à Cidade do México, o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador acaba de decidir retirar seu embaixador em Brasília, José Piña, que permaneceu três anos no posto. Segundo versões extraoficiais divulgadas pela imprensa mexicana e confirmadas por fontes diplomáticas do país, a escolhida para substituí-lo foi a escritora Laura Esquivel, conhecida por seu ativismo a favor dos direitos humanos.
Na vizinha Argentina, a expectativa por uma mudança de governo também é grande. O presidente Alberto Fernández nunca escondeu sua amizade com Lula e, em dezembro, organizou um grande evento em homenagem ao ex-presidente na Praça de Maio.
Entre os governos mais entusiasmados com um eventual retorno de Lula ao poder também estão os da Alemanha e França. Em geral, as fontes diplomáticas consultadas confirmaram o enorme interesse estrangeiro no processo eleitoral brasileiro e, também, certa preocupação pelo compromisso do presidente Bolsonaro com regras democráticas.
Mas, assim como há governos e presidentes eleitos entusiasmados com a possibilidade do retorno de Lula ao poder, também existem outros que, em conversas informais, admitem que prefeririam a continuidade de Bolsonaro. Um desses países é a Colômbia, que em maio também elegerá novo presidente. Em setores de centro e direita do país, o objetivo é impedir a vitória do senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, que já manifestou intenção de propor alianças a um eventual governo de Lula.