O GLOBO, n 32.332, 13/02/2022. Política, p. 6
Sem França, Lula e Alckmin se reúnem na casa de Haddad
Bianca Gomes
Chapa avança, mas indefinição sobre sigla que abrigará ex-tucano persiste
Em meio às negociações para formação de uma chapa para a disputa à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) se encontraram na sexta-feira na casa do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), um dos principais articuladores da união entre os dois ex-adversários.
Também entusiasta do acordo para a eleição ao Planalto e, assim como Haddad, pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, o ex-governador Márcio França (PSB) não participou.
O jantar ocorreu em São Paulo e contou com a presença do ex-deputado federal Gabriel Chalita (sem partido), além das ex-primeiras damas Lu Alckmin e Ana Estela Haddad, e de Rosangela Silva, a Janja, companheira de Lula. Segundo relatos de pessoas próximas, o encontro consolidou ainda mais a relação entre o ex-presidente e o ex-governador.
A oito meses da eleição, a chapa é considerada certa no entorno dos dois políticos, mas ainda falta definir o novo partido de Alckmin, que deixou o PSDB no ano passado. As conversas com o PSB, apesar de avançadas, continuam esbarrando na eventual candidatura de França ao governo de São Paulo. O PT, por sua vez, deseja lançar Haddad. Por isso, o encontro desta sexta foi considerado por algumas pessoas próximas a Lula e Alckmin como um possível sinal de “isolamento” de França.
ANÁLISES INTERNAS
Entre aliados de Alckmin, há a preocupação de que a ida ao PSB, na hipótese de manutenção das duas candidaturas em São Paulo, gere constrangimento na campanha nacional —Lula tem insistido que Haddad deve ser candidato, por vislumbrar a possibilidade de que o PT vença no estado mais populoso do país, o que nunca ocorreu.
PSB e PT também negociam a formação de uma federação partidária, que incluiria ainda PCdoB e PV, mas entre os empecilhos centrais se destacam justamente as complicações nos palanques estaduais, como no caso de São Paulo.
O encontro ocorrido ontem entre o governador Renato Casagrande (PSB), que concorrerá à reeleição no Espírito Santo, e o pré-candidato do Podemos à Presidência, Sergio Moro, também gerou reação. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que a reunião foi uma “sinalização política ruim” e que torna “mais difícil” a formação da federação, apesar de não inviabilizá-la. A divisão de cargos na estrutura de comando resultante da união é outro motivo de divergência e está sendo debatida internamente pelas cúpulas partidárias.
Para contornar as turbulências, uma das alternativas consideradas é a filiação de Alckmin ao PV —há também um convite feito pelo Solidariedade. A expectativa dos petistas é anunciar a chapa à Presidência até março, com o objetivo de facilitar filiações de outros deputados ao eventual partido de Alckmin.