O GLOBO, n 32.333, 14/02/2022. Mundo, p. 23

Risco de ataque russo deixa Otan em estado de alerta

Bernardo de Miguel


Aliança militar ocidental confia em informações da Casa Branca sobre eventual invasão da Ucrânia por volta de 16 de fevereiro

Desde sexta-feira, a Otan está em alerta permanente por causa do risco de um ataque russo à Ucrânia. A aliança militar ocidental vem dando credibilidade às informações obtidas pelos serviços de Inteligência dos EUA, que apontam para uma invasão russa por volta de 16 de fevereiro. Os aliados ocidentais também temem que o conflito na Ucrânia leve a uma guerra híbrida entre Moscou e a Europa, com uma perigosa combinação de pressão migratória nas fronteiras polonesas e ciberataques contra infraestruturas críticas, incluindo fornecimento de energia, que podem condenar alguns países europeus a apagões ou à falta de combustível para aquecimento.

A grave situação no Leste da Europa levou o Conselho Atlântico da Otan, onde se sentam os embaixadores dos 30 países-membros, a declarar-se em "sessão permanente", segundo fontes da aliança em Bruxelas. Os embaixadores receberam na manhã de sexta-feira informações dos serviços de espionagem americanos sobre o início de uma invasão russa da Ucrânia, que até teria, segundo estas fontes, uma data específica: 16 de fevereiro. Pouco depois, o presidente dos EUA, Joe Biden, convocou uma videoconferência com os principais líderes da Otan e da União Europeia e deu a eles a mesma impressão de que a guerra pode ser iminente.

FATOR ENERGÉTICO

A primeira sessão de emergência da Otan convocada pelo secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, durou até quase 23h de sexta-feira. E outra reunião do Conselho Atlântico já foi convocada imediatamente para hoje, às 10h. O sentimento de alarme na Europa também se espalha no campo civil, dadas as consequências imprevisíveis de um conflito armado em um país do tamanho da Ucrânia (mais de 40 milhões de habitantes) que também é um ator fundamental no fornecimento de gás russo aos mercados ocidentais. Bruxelas e Washington intensificaram os contatos nas últimas horas para coordenar uma resposta para evitar uma crise energética na Europa.

O Gabinete de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, assumiu nas últimas horas a coordenação com os EUA tanto para a imposição de sanções contra a Rússia em caso de ataque à Ucrânia como para mitigar as possíveis consequências para a Europa, especialmente no campo energético. A UE também teme das repercussões migratórias de um confronto armado na Ucrânia.

As advertências de Biden foram inicialmente recebidas com algum ceticismo no Velho Continente. Mas fontes europeias reconhecem agora que a enorme mobilização de tropas russas (mais de 130 mil soldados na Rússia e na Bielorrússia) e o custo financeiro e logístico de tal operação mostram que Putin está disposto a lançar uma ofensiva. Essas fontes dão credibilidade às informações fornecidas pelos EUA e supõem que, após o fiasco de 2003, quando Washington arrastou seus aliados para uma guerra no Iraque com base em informações falsas, os EUA não podem mais arriscar a reputação de seus serviços de espionagem, gravemente prejudicados pelo fiasco das alegadas armas de destruição maciça do regime iraquiano de Saddam Hussein.