O GLOBO, n 32.333, 14/02/2022. Política, p. 4
BARREIRA ÀS MULHERES NA POLÍTICA
Bianca Gomes
Partidos apresentam pré-candidatas ao governo em menos da metade dos estados
Enquanto a senadora Simone Tebet (MDB- MS) continua sendo a única à Presidência ,14 das 27 unidades da federação não têm uma mulher sequer cotada para a disputa ao governo do estado, mostra levantamento feito pelo GLOBO.
Minoria nos palanques, elas representam 52,5% do eleitorado do país. Ainda assim, o comando dos Executivos estaduais tem sido um desafio histórico para as brasileiras — só oito foram eleitas governadoras. A primeira foi há 28 anos, quando Roseana Sarney venceu no Maranhão. De lá para cá, o panorama pouco avançou, e o país tem hoje apenas Fátima Bezerra (PT) à frente de um Executivo estadual.
A sub-representação também é uma realidade na corrida presidencial, cuja única mulher eleita foi Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment em 2016. Este ano, por enquanto, apenas Simone Tebet se lançou pré-candidata, e ainda sob resistências internas e convites para ser vice em outras chapas. A pesquisa Ipec mais recente, de dezembro, aponta 11 pré-candidaturas de homens.
Apesar da maior presença feminina nos espaços de poder, o aumento de mulheres eleitas ainda se dá a passos lentos, avalia a socióloga Camila Galetti, estudiosa de política institucional, feminismo e movimentos sociais na Universidade de Brasília (UnB).
— As mulheres têm muita dificuldade para chegarem à posição de tomar decisões dentro dos partidos. Cerca de 90% dos dirigentes partidários são homens, e isso afeta as indicações para as pré-candidaturas — diz a especialista, acrescentando que a ampliação dos quadros femininos é vital para a formulação de mais políticas públicas voltadas para este grupo.
APENAS NOVE POSTULANTES
Considerando apenas as pré-candidatas ao governo já confirmadas pelos partidos, só Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Roraima têm postulantes. São, ao todo, nove mulheres, das quais cinco se autodeclaram brancas, quatro pardas e nenhuma preta, indígena ou asiática. No CE, DF e PI, além dos nomes já confirmados, há também outras candidatas que cogitam disputar o pleito.
Feito com base em pesquisas eleitorais e indicações dos próprios partidos, o levantamento do GLOBO também mapeou outros seis estados em que há nomes cotados, ou seja, cuja pré-candidatura não foi oficializada, mas é considerada. É o caso de Minas Gerais, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. Mas em 14 estados sequer há candidatas sendo citadas, como São Paulo, onde vive cerca de 20% da população brasileira, Rio, onde moram 8%, e Bahia, com 7%.
Dirigentes partidários alegam que ainda é cedo para falar em pré-candidaturas a governo. No entanto, especialistas argumentam que, se houvesse investimento em lideranças femininas, mais mulheres despontariam como prováveis concorrentes.
— A estimativa de poucas pré-candidatas é resultado da pouca representatividade da mulher na política institucional —sintetiza Camila.
Outro argumento citado por dirigentes partidários é a “falta de interesse das mulheres em concorrer a cargos majoritários”. Justificativa falsa, segundo Jéssica Melo Rivetti, doutoranda em Sociologia pela USP e coordenadora do Mulheres Eleitas:
—A ausência das mulheres na política institucional é naturalizada. Não são tratados problemas como a estrutura partidária, as hierarquias dos movimentos sociais, o acesso restrito a recursos e, principalmente, a ausência de tempo em razão da sobrecarga de trabalho não remunerado, como a maternidade e as atividades de cuidado no âmbito doméstico.
Presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) disse que, por ora, a sigla não prevê novas candidaturas de mulheres para os governos estaduais:
— Estamos fazendo um grande movimento para aumentar nossas candidatas a deputadas federais. Nossa prioridade é fortalecer a bancada no Congresso. O PT não terá muitas candidaturas a governos estaduais.
O deputado federal Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, defendeu a maior presença das mulheres nos partidos, especialmente em cargos de direção. E ressaltou que, em 2020, a legenda formalizou um compromisso com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para garantir a elas pelo menos 30% das vagas de comando em todos os diretórios municipais, estaduais e nacional:
— Precisamos eleger mais mulheres, a começar pelo Legislativo. É no Congresso que mulheres podem pressionar e apresentar medidas que aumentem a participação feminina na política.
A expectativa para este ano é que o número de candidatas ao governo não fique muito distante do de 2018, quando 30 mulheres encabeçaram chapas majoritárias, contra 172 homens. Espaço maior foi conquistado na condição de vice: foram 76 contra 132.
No último pleito, o cenário da corrida presidencial foi pelo mesmo caminho, com duas mulheres liderando suas chapas e cinco candidatas a vice. Este ano, João Doria (PSDB) já sinalizou que quer uma mulher como vice e abriu negociações com a senadora Eliziane Gama (Cidadania). O PDT, de Ciro Gomes, cogita convidar a ex-ministra Marina Silva (Rede) para o cargo. E Jair Bolsonaro (PL) pode vir acompanhado pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM).