VALOR ECONÔMICO, n 5408, 31/10/2021, 1, 2 e 3 de janeiro de 2022. Agronegócios, B8
Commodities tendem a continuar firmes
Fernando Lopes, Fernanda Pressinott, Rikardy Tooge, José Florentino, Camila Souza Ramos, Érica Polo e Patrick Cruz
Os preços das commodities agrícolas mais exportadas pelo Brasil superaram as expectativas e encerraram 2021 com variações positivas que não eram registradas há anos nas bolsas de Nova York e Chicago. Demandas firmes, ofertas limitadas por adversidades climáticas, dólar e petróleo colaboraram para as fortes valorizações observadas, que põem as cotações em elevados patamares de partida em 2022. A expectativa é que o ritmo de avanço arrefeça, mas, de acordo com analistas, o espaço para quedas expressivas é restrito.
Depois de subir mais um degrau em dezembro, o café arábica encerrou 2021 com alta de 51,44% em relação a 2020 em Nova York, no mais alto nível desde 2014 (US$ 1,7059 por libra-peso), segundo cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega. Com seca e geadas no Centro-Sul do Brasil, que lidera a produção e as exportações mundiais da espécie, a restrita oferta global foi fundamental para o salto. E como os problemas no Brasil perduram as cotações tendem a seguir com suporte.
Outra commodity que tem no Brasil o maior país exportador e também sofreu com os reflexos das intempéries no Centro-Sul do país, o açúcar demerara fechou 2021 com preço médio 38,5% maior que o do ano anterior em Nova York (17,78 centavos de dólar por libra-peso). Trata-se do maior valor desde 2016, também sustentado pelo petróleo e suas influências no mercado de etanol. Como as projeções apontam déficit global na safra 2021/22, em larga medida ainda graças ao Brasil, a margem para retrações é estreita.
O Centro-Sul brasileiro é vital também para a oferta mundial de suco de laranja, e a redução da colheita da fruta no cinturão que se espalha por São Paulo e Minas Gerais colaborou para que os futuros da bebida concentrada e congelada (FCOJ) encerrassem 2021 com valor médio 8,65% maior que em 2020 (US$ 1,2527 por libra-peso). Mas, embora o Brasil domine 80% dos embarques globais de suco de laranja, Nova York reflete sobretudo a realidade do mercado americano, onde a demanda até caiu um pouco após os picos no início da pandemia, mas continuou relativamente sólida.
No mercado de algodão, o petróleo, a retomada da produção da indústria têxtil e a demanda chinesa aquecida ajudam a explicar a valorização de 44,1% ante 2020 no valor médio dos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados em Nova York (93,16 centavos de dólar por libra-peso), que chegou máxima desde 2011. Em dezembro já houve uma acomodação, mas as perspectivas apontam para cotações atraentes em 2022, sobretudo se a economia global mostrar que de fato está mais resistente à covid-19.
Os preços dos principais grãos negociados na bolsa de Chicago, por sua vez, comprovaram sua notável resiliência em tempos de pandemia e registraram, em 2021, médias bastante elevadas em termos históricos.
Nos casos de soja e milho - o Brasil lidera os embarques globais da oleaginosa e briga pela segunda posição no ranking do cereal -, até houve problemas de oferta no ano passado, principalmente no Brasil. Mas foi o consumo firme de proteínas mais baratas que carne bovina (como as carnes suína, de frango e ovos, que dependem dos grãos para as rações dos animais) o fator principal para que as relações entre ofertas e demandas permanecessem com pouca folga, como continuam.
Na soja, apontam os cálculos do Valor Data, o valor médio alcançado em 2021 foi 42,52% superior ao de 2020, e o mais elevado desde 2013. No milho, a alta na comparação entre as médias de 2021 e 2020 foi de 53,01%, e o dagrau atingido no ano passado foi o mais alto desde 2012.
Os resultados de 2021 e o cenário geral para 2022 apontam, assim, que os exportadores brasileiros não têm muito do que reclamar no que se refere aos preços, e os atuais patamares ajudam a compensar boa parte das perdas registradas nas lavouras por causa do clima, mesmo que o aumento dos custos dos insumos já tenha começado a reduzir um pouco mais as margens de lucro.