O Estado de S. Paulo, n. 48109, 06/07/2025. Economia & Negócios, p. B6
Embraer se aproxima da meta de dobrar receita em 5 anos
Luciana Dyniewicz
“Espetacular”, “sensacional” e “extraordinário” são as palavras usadas pelos analistas do mercado financeiro para definir o momento atual da fabricante brasileira de aviões Embraer. Com a recente divulgação de ter recebido novas encomendas de aviões comerciais e de defesa, a empresa tem deixado claro que cumprirá sua estratégia de quase dobrar sua receita em apenas cinco anos.
Em 2020, em meio à crise da pandemia e à tentativa de se recuperar do golpe sofrido pela Boeing – que havia desistido de comprar sua divisão de aviação comercial –, a Embraer traçou um plano para elevar suas receita dos estimados US$ 4 bilhões esperados para 2021 para algo entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões em 2026. Tudo indica que, em 2025, já deverá alcançar um resultado entre US$ 7 bilhões e US$ 7,5 bilhões. Agora, porém, a meta avançou para US$ 10 bilhões para 2030, com o mercado considerando a possibilidade de o número ser atingido em 2028.
Na semana passada, a Embraer anunciou que a companhia Scandinavian Airlines (SAS) fechou um acordo para comprar 45 aviões da brasileira, com a opção de ampliar esse pedido para 55, na maior encomenda de jatos feita pela empresa escandinava direto a um fabricante desde 1996.
A compra sinalizou ao mercado que o segmento comercial da Embraer está se fortalecendo e ajudou as ações da empresa a bater recorde. Na última quinta-feira, elas chegaram a subir 4,4% e fecharam o dia cotadas a R$ 83,14. No acumulado do ano, a alta é de 82% e, se considerar o período da pandemia em que o papel atingiu seu patamar mais baixo, de R$ 6,02, o aumento no preço até agora é de 1.222%.
AVIAÇÃO EXECUTIVA. Para analistas, entretanto, não é o braço comercial da Embraer que chama atenção. O segmento de aviação executiva é a estrela da empresa, dizem, e o principal responsável por esse desempenho na Bolsa.
“Quando a Boeing quis comprar a Embraer, ela nem queria a executiva, que era uma coadjuvante da empresa. Hoje, o segmento comercial virou coadjuvante, e a executiva, protagonista”, diz o analista Alberto Valerio, do UBS BB.
Com bons produtos no segmento, a brasileira viu a demanda por seus jatos crescer na pandemia, quando consumidores endinheirados e empresas passaram a preferir voos exclusivos e, por isso, compraram aviões executivos. Quem migrou para esse mercado acabou gostando e ficando no pós-covid.
“A Embraer estava bem posicionada no segmento quando a pandemia chegou”, afirma Valerio. Ele acrescenta que a Embraer tem como principais clientes nos Estados Unidos empresas de compartilhamento de jatos, como NetJets e Flexjet. Por meio dessas companhias, pessoas físicas experimentam os modelos da brasileira e, posteriormente, optam por comprar esses jatos.
Na quarta-feira, a Embraer divulgou que entregou 38 aviões executivos no segundo trimestre de 2025, um incremento de 41% na comparação com o mesmo período de 2024. O número surpreen
deu positivamente analistas do Citi e do BTG Pactual, que destacaram em seus relatórios que o segmento executivo tem uma margem maior.
Além do segmento executivo, o de defesa também tem apresentado resultados positivos nos últimos dois anos, com a concretização de encomendas do avião cargueiro C390 Millenium. Anunciado em 2009, o desenvolvimento da aeronave, feito em parceria com a FAB, custou US$ 4,5 bilhões (aproximadamente R$ 24 bilhões).
Apesar de impressionar pela qualidade técnica, o avião — que é chamado de KC-390 quando tem a opção de abastecimento em voo — decepcionou inicialmente o mercado em vendas. Desde 2023, no entanto, as encomendas passaram a chegar em maior volume. Já optaram pelo C-390: Portugal (em 2019), Hungria (2020), Holanda (2022), Coreia do Sul (2023), Áustria (2023), República Tcheca (2023) e Eslováquia (2024).
Índia.
A empresa também está competindo para vender o modelo para a Arábia Saudita, onde uma frota de 60 aeronaves precisa ser aposentada e para a Índia, que planeja uma compra de 40 a 80 aviões. Especialistas da área veem mais chance de a brasileira conseguir fechar com a Índia, dado que a Arábia Saudita é mais próxima dos EUA e poderia escolher um modelo de lá. “Se ela realmente conseguir a Índia, iria para outro nível”, diz um analista.
Enquanto os segmentos de defesa e executiva vem mostrando resultados sólidos, o comercial é visto como o mais frágil da empresa. É neste que a brasileira compete sobretudo com a gigante Airbus, que é 12 vezes maior que ela. Com um leque de modelos de aeronaves maior, a europeia tem grande ganhos de escala e pode fazer vendas casada de jatos menores – que operam rotas regionais e disputam diretamente com os da Embraer – e maiores – que costumam brigar com a Boeing.