VALOR ECONÔMICO, n 5409, 04/01/2022. Brasil, A3

Alta da energia impacta 90% das famílias, indica pesquisa

Rafael Vazquez

 

O aumento da conta de luz verificado ao longo do ano passado causou impacto notável no orçamento de nove entre dez brasileiros, segundo pesquisa do Ipec contratada pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade). De acordo com a pesquisa, 90% dos entrevistados relataram que o atual valor da conta de luz está impactando “muito” ou “um pouco” na rotina das famílias.

Para poder pagar a conta, quatro em cada dez brasileiros, ou 40%, diminuíram ou deixaram de comprar roupas, sapatos e eletrodomésticos. Além disso, 22% diminuíram a compra de alimentos básicos para garantir a energia em suas casas, índice que chega a 28% entre os nordestinos. Outros 14% deixaram de pagar contas básicas como as de água e gás encanado.

Conforme destaca o iCS, em uma visão mais ampla dos dados, o gasto com gás e energia elétrica já compromete metade ou mais da renda de 46% das famílias brasileiras, sendo que 10% já se encontram com quase toda a renda familiar comprometida com esses gastos.

O levantamento ainda traça uma mudança de comportamento dos brasileiros para tentar diminuir a conta de luz. Segundo o iCS, 49% afirmam ter adotado ações como tomar banho mais rápido e desligar as lâmpadas para economizar na conta de luz. Na mesma linha, 44% dizem ter deixado de usar ou ter reduzido o uso de eletrodomésticos que consomem muita energia. Ainda, 42% substituíram lâmpadas por outras mais econômicas e 23% passaram a evitar o consumo nos horários de pico. Só 5% declaram usar fontes alternativas renováveis, como a solar, e 18% não mudaram hábitos.

Para 52%, o que mais pesou no bolso foi o aumento do botijão de gás, enquanto 42% apontaram o custo da energia elétrica como maior impacto. Segundo a pesquisa, um em cada dez brasileiros passou a usar lenha para cozinhar e 6% passaram a usar carvão.

O estudo ainda aponta que, fora os gastos mais altos com energia e gás, 52% das famílias notaram interrupções no fornecimento de água nos últimos 12 meses. No Nordeste, o número sobe para 61%. Nove em cada dez dizem estar preocupados com a possibilidade de racionamento ou de apagões no futuro próximo, sendo que 70% afirmam estar “muito” preocupados. A mesma proporção acredita que houve descaso do governo na crise hídrica.

Na coleta dos dados, o Ipec ouviu 2002 pessoas com 16 anos ou mais em todas as regiões do Brasil entre 11 e 17 de novembro.