O GLOBO, n 32.334, 15/02/2022. Política, p. 6
Histórico no Congresso indica união difícil entre PT e PSB
Lucas Mathias
Na Câmara, enquanto petistas costumam atuar em bloco, deputados socialistas votaram a favor de pautas bolsonaristas
Além das divergências que já ficaram evidentes na tumultuada negociação dos palanques estaduais para as eleições, o histórico de votações de PT e PSB em votações cruciais na Câmara dos Deputados indica um novo complicador para a concretização da federação tratada pela siglas. Pela legislação aprovada pelo Congresso, os partidos que decidirem se juntar numa federação terão de estar juntos nas apenas nas eleições mas também na atuação parlamentar durante os quatro anos seguintes.
Esse histórico mostra que a união não será automática. Houve, dentro do PSB, posicionamentos favoráveis a pautas de interesse da equipe econômica do governo e de projetos defendidos pela ala ideológica que cerca o presidente Jair Bolsonaro. Já o PT vota de maneira unânime em boa parte dos temas mais controversos —em ambos os casos, a postura segue o alinhamento histórico, com petistas tradicionalmente unidos a uma decisão central, e socialistas mais propensos a orientações que vêm de diferentes lideranças estaduais.
Um levantamento realizado pelo GLOBO, que analisou seis votações importantes na Câmara no ano passado, identificou divergências significativas entre PT e PSB em ao menos quatro delas. No projeto de autonomia do Banco Central, aprovado na Casa em fevereiro de 2021, todos os 47 votos petistas foram contrários. Já no PSB, 17 deputados também votaram contra, mas outros 11 foram favoráveis ao avanço da medida. O assunto é citado pelo governo Bolsonaro como um dos principais avanços na área econômica.
PAUTAS ECONÔMICAS
Na PEC dos Precatórios, mais uma vez, a divergência ficou clara: em primeiro turno, o PT deu 44 votos “não” e nenhum favorável, enquanto o PSB se dividiu entre 9 favoráveis e 20 contrários. Em segundo turno, os socialistas repetiram o placar e os petistas aumentaram sua oposição ao tema, com 52 votos contrários.
A PEC dos Precatórios viabilizou o Auxílio Brasil de R$ 400, uma das principais bandeiras eleitorais de Bolsonaro. Ela suspendeu o pagamento de despesas do governo decorrentes de sentenças judiciais e alterou o cálculo do teto de gastos.
Já na PEC do voto impresso, pauta cara ao bolsonarismo, foram 51 votos do PT, todos contrários. A Proposta de Emenda à Constituição acabou rejeitada, apesar de 10 deputados do PSB terem votado a favor, contra 18 votos contrários no partido.