O Estado de S. Paulo, n. 48123, 20/07/2025. Política, p. A9
Governo Lula reage à revogação de vistos dos ministros do STF
Em nota, o presidente Lula chamou de “medida arbitrária” a decisão do governo dos EUA de revogar vistos de oito ministros do Supremo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou solidariedade ao ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que tiveram os vistos revogados pelos Estados Unidos. “A interferência de um país no sistema de Justiça de outro é inaceitável e fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações”, diz a nota oficial publicada pelo governo federal ontem pela manhã.
O presidente ainda chamou a ação tomada pelo governo de Donald Trump de “mais uma medida arbitrária e completamente sem fundamento do governo dos Estados Unidos”.
A revogação dos vistos foi anunciada nesta sexta-feira por Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA. Além de Alexandre de Moraes, alvo prioritário da medida, mais sete ministros do STF foram atingidos: Luís Roberto Barroso – presidente da Corte –, Flávio
Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Edson Fachin. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, também teve o visto revogado. Só ficaram de fora da lista de sanções impostas pelo governo americano André Mendonça, Luiz Fux e Nunes Marques.
O anúncio da revogação dos vistos foi feito após a decisão de Moraes que impôs uma série de medidas restritivas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o uso de tornozeleira. “Estou certo de que nenhum tipo de intimidação ou ameaça, de quem quer que seja, vai comprometer a mais importante missão dos poderes e instituições nacionais, que é atuar permanentemente na defesa e preservação do estado democrático de direito”, acrescentou a nota assinada por Lula.
SEM RECUO. O presidente se reuniu ontem no Palácio da Alvorada com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Viei
Governo acredita que Trump usou julgamento de Bolsonaro como pretexto para reagir ao avanço dos Brics
ra, e o embaixador Mauricio Lyrio, negociador do Brasil no Brics. Preocupado com o tarifaço de 50% imposto pelo presidente Donald Trump aos produtos brasileiros, Lula se informou sobre o andamento das negociações.
Até agora não há sinais de que a Casa Branca vá recuar. Nos bastidores do governo, porém, a avaliação é a de que Trump usou o julgamento de Bolsonaro como pretexto para reagir ao avanço do Brics.
Na sexta-feira, Trump repetiu a ameaça de taxar em 10% os produtos de países do bloco que são vendidos para os EUA. Disse, ainda, que o grupo “acabará muito rapidamente” caso se forme “de modo significativo”. “Nunca podemos deixar ninguém brincar conosco”, afirmou.
A agenda de desdolarização no Brics está na mira de Trump. Embora Lula defenda “uma nova moeda de comércio internacional”, o bloco não aceita a ideia. Estuda, porém, um sistema de pagamento internacional para facilitar o comércio em moedas locais.