O GLOBO, n 32.334, 15/02/2022. Saúde, p. 19
‘Capitã Cloroquina’ deixa cargo no Ministério da Saúde
Como secretária, Mayra Pinheiro defendeu o uso de drogas ineficazes na pandemia e teve indiciamento pedido pela CPI da Covid
Conhecida como “Capitã Cloroquina”, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, pediu para deixar o cargo. A médica foi nomeada para a subsecretaria da Perícia Médica Federal da Secretaria de Previdência do Ministério do Trabalho e Previdência. A mudança foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) ontem.
Após o anúncio da saída da pasta, Mayra foi a uma reunião no Palácio do Planalto. Ao ser questionada sobre seu sucessor no cargo, ela disse que o “ministro (da Saúde, Marcelo) Queiroga vai decidir”. O cardiologista agradeceu o trabalho dela na pasta e a chamou de “Capitã Saúde”, em vídeo publicado nas redes sociais.
Olavista declarado, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos (SCTIE), Hélio Angotti Neto, é cotado para a função. O oftalmologista é responsável por barrar a diretriz da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) que rejeita o uso do kit Covid em pacientes não internados.
À frente da secretaria, a médica se tornou um dos alvos da CPI da Covid. Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas, Mayra Pinheiro confessou ter organizado uma comitiva para disseminar o uso de cloroquina em Manaus. A viagem ocorreu às vésperas da crise do oxigênio, no início de 2021, que levou à morte por asfixia de pacientes internados com Covid.
A“Capitã Cloroquina” afirmou, durante depoimento à CPI em maio, que houve orientação do próprio ministério para o tratamento precoce contra a Covid-19. Declarou, também, que era “inadmissível não ter a adoção de todas as medidas”, numa referência aos medicamentos, diante do colapso da rede de saúde amazonense.
No relatório, a comissão pediu seu indiciamento por três crimes: epidemia com resultado morte, prevaricação e crime contra a humanidade pela defesa da cloroquina e hidroxicloroquina, comprovadamente ineficazes no combate ao coronavírus.
Segundo Mayra, o próximo passo é disputar as eleições. Ela deve concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PL do Ceará. (M.D)