VALOR ECONÔMICO, n 5411, 06/01/2022. Política, A5

No MDB, Viana mira eleitor “à direita” em MG
Vandson Lima e Cibelle Bouças

 

Vice-líder do governo do presidente Jair Bolsonaro, o senador Carlos Viana deixou o PSD e se filiou ao MDB para disputar o governo de Minas Gerais neste ano. Eleito em 2018 com 3,5 milhões de votos, em um pleito em que desbancou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o jornalista, que comandava programas populares da TV e rádio, acredita que pode puxar para si o eleitorado mais à direita, dado que o atual governador, Romeu Zema (Novo) tem procurado se distanciar do presidente e Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte e outro provável concorrente, pode ceder o palanque ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“O presidente Bolsonaro tem em mim um apoio. A princípio, não posso dar palanque a ele porque o partido do presidente [o PL] faz parte da base de apoio do Zema e o meu partido, o MDB, tem uma pré-candidata, a [senadora] Simone Tebet”, diz. “Mas o fato é que a base bolsonarista está órfã no Estado. Então esse voto de centro-direita é para mim”, aponta Viana, que espera crescer com a capilaridade do partido no Estado. O MDB é o partido com o maior número de prefeitos em Minas, comandando 99 dos 853 municípios mineiros.

A migração de Viana para o MDB, feita a convite dos senadores Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e Eduardo Braga (MDB-AM), não recebeu objeções de Bolsonaro. “Conversei com o presidente e expliquei meu desejo de ser candidato a governador. Coloquei o cargo de vice-líder à disposição, mas ele disse que eu poderia continuar”, explica.

Com a avaliação em alta, Zema tem tentado distanciar seu nome do presidente Bolsonaro, a quem apoiou na eleição de 2018. Pesquisa do jornal “O Tempo” aponta que seu governo tem 60,1% de aprovação da população mineira. Outra sondagem do jornal, do fim do ano passado, mostrou o governador com 45,7% das intenções de voto, contra 22,9% de Alexandre Kalil, podendo vencer a disputa no primeiro turno. Viana, que ainda não havia colocado sua pré-candidatura, não foi incluído.

Zema e Bolsonaro dividiram palanque em três eventos realizados em Minas em setembro e outubro de 2021. Em novembro, o governador recebeu o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos) para um almoço. E foi criticado nas redes sociais por bolsonaristas, que o chamaram de “traidor” e “oportunista” por receber o pré-candidato do Podemos e desafeto de Bolsonaro.

Já o prefeito Kalil diz que vai apoiar o candidato do PSD à presidência - que tem como nome o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) - ou aquele que o partido decidir apoiar nacionalmente.

O PT conversa nos bastidores sobre a possibilidade de apoiar Kalil para o governo, em troca do seu apoio a Lula. Mas ainda não há acordo. O prefeito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira (PT), foi lançado por uma ala do partido. Outro nome cogitado é do deputado federal Reginaldo Lopes.

Viana foi eleito em 2018 na onda da “antipolítica” e por um partido minúsculo, o PHS, posteriormente extinto por não atingir votos suficientes para alcançar a cláusula de desempenho. E assume o pragmatismo na nova mudança partidária. “Partido hoje é exigência legal, não é escolha. Candidaturas avulsas não são permitidas. Não adianta eu ser um candidato com boas intenções e não ter sobrevivência política”, alega.

Sua entrada também coloca fim num movimento errático do MDB local. Em novembro, enquanto caciques como o ex-presidente Michel Temer se encontravam com Kalil - foi noticiado até um convite para que ele integrasse a legenda -, o deputado federal Newton Cardoso Júnior, presidente do MDB mineiro, sondava Zema para entrar na sigla. “Temer não convidou o Kalil, ele mesmo me garantiu. E o convite a Zema foi porque o partido não tinha candidato naquele momento”, justifica Viana.

A ida de Viana também engorda a bancada de senadores do MDB, a maior da Casa com 16 integrantes. Caso não vença a disputa local, ele ficará no Senado: seu mandato vai até 2027.