VALOR ECONÔMICO, n 5411, 06/01/2022. Internacional, A7
Cazaquistão pede ajuda à Rússia contra protestos
Agências Internacionais
Após um pedido feito pelo governo do Cazaquistão, a Rússia enviou ontem ao país uma “força de paz” para controlar uma revolta popular que exige a destituição do presidente Kassym-Jomart Tokayev. Segundo Moscou, o destacamento é integrado por soldados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, formada por seis países da ex-União Soviética.
Os protestos, principalmente em razão de um aumento dos preços de combustíveis, começaram na terça-feira e ganharam força ontem. Na maior cidade do Cazaquistão, Almaty, os manifestantes invadiram a residência presidencial e o Gabinete do prefeito e atearam fogo aos dois edifícios.
A polícia atirou contra manifestantes durante o ataque à residência do presidente, que conseguiu fugir. Mas a repressão que incluiu jatos de água, num clima gélido, e granadas com gás lacrimogêneo não dispersou definitivamente a multidão de revoltosos.
Tokayev afirmou que os protestos estão sendo organizados por “grupos terroristas” que recebem apoio de outros países.
Segundo informações oficiais oito policiais morreram e mais de 300 ficaram feridos nos protestos. Fontes independentes não tinham divulgaram até ontem à noite o número de vítimas civis.
Tokayev, que havia aceitado a renúncia de seu Gabinete numa tentativa de acalmar a revolta, ameaçou adotar medidas ainda mais severas contra os protestos - declarando estado de emergência em todo o país por duas semanas. Mais cedo, um toque de recolher noturno havia sido decretado em Almaty e na capital, Nursultan.
A insatisfação popular começou em razão da retirada de subsídios ao gás liquefeito de petróleo, usado como combustível em muitos veículos. Os preços dispararam e as manifestações se espalharam rapidamente para outras cidades, chegando a Almaty. Ontem, o presidente recuou na decisão de retirar os subsídios.
Os protestos refletem também um descontentamento mais amplo da população do país, que vive sob o governo do mesmo partido desde 1991, após o fim da URSS.
Importante aliado da Rússia, o Cazaquistão possui amplas reservas de petróleo, que o tornam um país estrategicamente importante para a região. A crise ocorre em meio à crescente tensão entre a Rússia e os Estados Unidos e países da Europa com o aumento do continente de tropas russas estacionadas na fronteira com a Ucrânia.
Tokayev anunciou ainda que assumiria a liderança do Conselho de Segurança Nacional, posto ocupado por Nursultan Nazarbayev, homem forte do país e presidente entre 1991 e 2019. Nazarbayev é outro dos alvos centrais dos manifestantes, que o consideram o verdadeiro poder por trás de Tokayev.