O GLOBO, n 32.335, 16/02/2022. Política, p. 7
PT pode retirar candidato na Bahia em favor do PSD
Sérgio Roxo e Bernardo de Mello
Para ter o atual governador, Rui Costa, como candidato ao Senado, partido cogita desistir de lançar Jaques Wagner ao governo e apoiar Otto Alencar. Movimento local fortalece aproximação entre as siglas — união com legenda de Kassab é desejada por Lula
A falta de consenso para a formação da chapa na Bahia ameaça a manutenção da coalizão liderada pelo PT no estado. Diante do impasse, o senador Jaques Wagner (PT) tem considerado a hipótese de não concorrer ao governo estadual e abrir caminho para a candidatura do senador Otto Alencar (PSD), seu aliado. Os cenários para a eleição local foram discutidos em uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem em São Paulo.
No plano nacional, o possível apoio do PT à candidatura de Otto pode ter efeito favorável à aproximação entre petistas e o PSD. Os dois partidos vêm trocado afagos. Semana passada, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que não é “impossível” que sua legenda apoie Lula já no primeiro turno. A sigla ainda não retirou a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e trata o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), como um plano B.
Petistas sonham em atrair o partido de Kassab para a aliança em torno de Lula. Com as negociações com o PSB travadas, o PSD é visto até como um possível destino para o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido), provável candidato a vice do petista.
A aliança entre PT e PSD na Bahia vigora desde 2011. Ainda como parte da possibilidade de arranjo no estado, o atual governador, Rui Costa (PT), seria o candidato ao Senado. O problema é que o PP, partido que no plano nacional é aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas na Bahia faz parte do governo petista desde 2009, não aceita integrar uma aliança liderada pelo PSD.
Ao sair da conversa com Lula, que teve também a participação de Otto e Rui Costa, Wagner afirmou que mantém sua candidatura ao governo baiano:
— Serei candidato — declarou, sem se estender nos possíveis caminhos para solucionar o impasse.
Wagner disse também que Otto e o atual vice-governador João Leão (PP) querem concorrer ao Senado. Pela proposta discutida pelo PT, Costa teria que deixar o governo em abril e Leão ficaria nove meses no comando do governo do estado.
Vice de Wagner entre 2011 e 2014, Otto é um dos principais aliados de Lula dentro do PSD e foi um dos poucos políticos de partidos de centro a se colocar contra o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Wagner ainda tem quatro anos de mandato como senador. Se não for candidato, pode integrar a coordenação da campanha presidencial de Lula e ter um posto de destaque no eventual governo do petista.
O PT governa a Bahia há 16 anos. Foram dois mandatos de Wagner e dois de Costa. O principal adversário do partido na eleição baiana deste ano será o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). As pesquisas o colocam como favorito.
ENCONTRO COM PAES
Além de interessar a Lula, a aproximação entre PT e PSD vai ao encontro também do anseio de alguns líderes locais do partido de Kassab, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Ele também se reuniu ontem com Lula em São Paulo e, no encontro, defendeu que o já anunciado apoio do ex-presidente ao deputado Marcelo Freixo (PSB) ao governo do Rio é um erro. Paes lançou ao Palácio Guanabara o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz, e já acertou uma aliança com o PDT, que tem Rodrigo Neves como pré-candidato — não há definição sobre quem será o cabeça de chapa.
Insatisfeito com o apoio de Lula a Freixo, Paes chegou a declarar ao Valor, há dez dias, que o petista está de “salto alto” e que não é um “fator relevante” na eleição do Rio, mas vem amenizando o tom. Ao “Roda Viva” da TV Cultura, o prefeito recalibrou o discurso e fez elogios ao ex-presidente e admitiu que ainda espera ter o apoio do PT.
Se a aproximação entre PT e PSD ganhar fôlego no plano nacional, Paes avalia que pode conseguir ter o apoio de Lula a seu candidato no Rio. Por ora, tanto Paes quanto o presidente do PSD, Gilberto Kassab, mantêm o discurso de que a legenda terá nome próprio ao Planalto. No Rio, o diretório regional do PT tem mais simpatia a uma aliança com o candidato de Paes do que com Freixo, que se fia na articulação direta com Lula e na provável aliança nacional entre petistas e o PSB, que está emperrada.
—Nunca paramos de conversar com Paes, tendo em vista que a estratégia do PT para 2022 é nacional. Isto passa por não restringir Lula a palanques de esquerda em estados como o Rio — disse o vice-presidente do PT, Washington Quaquá.