O GLOBO, n 32.335, 16/02/2022. Política, p. 8

Mourão deve disputar Senado pelo Republicanos

Daniel Gullino


Vice-presidente discutiu filiação com o presidente do partido, Marcos Pereira, para concorrer a uma vaga pelo Rio Grande do Sul

O vice-presidente Hamilton Mourão deu mais um passo em direção à sua candidatura ao Senado pelo Rio Grande do Sul nas eleições deste ano. Ele recebeu ontem o presidente do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira (SP), e disse após o encontro que sua filiação à legenda, integrante do Centrão, está praticamente certa. Não informou, porém, quando baterá o martelo. Atualmente, o vice-presidente é filiado ao PRTB.

A reunião com o parlamentar ocorreu na Vice Presidência, no Palácio do Planalto, e durou cerca de meia-hora. Ao fim, apenas Mourão, que está no exercício da Presidência da República, falou com a imprensa.

— Conversamos sobre a minha candidatura no Rio Grande do Sul, alinhando as nossas percepções e (sobre) a probabilidade de eu me juntar ao partido dele — disse Mourão.

Questionado sobre se a decisão está tomada, o vice-presidente respondeu:

— Praticamente, sim — disse, acrescentando sobre o que falta: —Só o momento. Só o tempo.

Na semana passada, Mourão anunciou seu plano de concorrer à cadeira no Legislativo pelo estado em que nasceu. Até então, ele cogitava também disputar o Senado ou o governo estadual no Rio de Janeiro, onde tem residência. Na segunda-feira, Mourão havia dito que avaliava a filiação ao Republicanos ou ao PP.

A eventual ida de Mourão para o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, pode contribuir para diminuir a insatisfação da sigla, um dos pilares do Centrão, com Bolsonaro. Quando o presidente optou por ingressar no PL, Marcos Pereira havia pedido que ele direcionasse parte de seus aliados para o Republicanos, com o intuito de reforçar a bancada do partido no Congresso nas eleições deste ano. Apesar da conversa, a maior parte dos bolsonaristas ensaia acompanhar o presidente e se filiar ao PL. 

CAMINHO LIVRE 

A possibilidade de Mourão disputar o governo do Rio preocupava o atual governador do estado, Cláudio Castro (PL), que pretende disputar a reeleição. Os dois disputariam o mesmo eleitorado bolsonarista.

Mourão enviava sinais ambíguos a quem lhe perguntava sobre seus planos para este ano. Para o próprio Castro, afirmou em um encontro no fim do ano passado que “não tem mais idade” para ser governador do Rio — o vice-presidente tem 68 anos). A missão Senado lhe agradava mais, embora continuasse dizendo estar indeciso sobre concorrer no Rio ou no Rio Grande do Sul. Até o colégio eleitoral de Brasília havia entrado no seu radar. 

O vice-presidente passou a mirar uma vaga no Congresso depois que o presidente Jair Bolsonaro deixou claro que não pretende tê-lo na chapa à reeleição. Desde então, estão cotados como opção para a vice os ministros da Defesa, Walter Braga Netto, e da Agricultura, Tereza Cristina.

No final do ano passado, Bolsonaro usou uma metáfora — “Tenha um paraquedas reserva” — para alertar seu vice de que não contava com ele como parceiro de chapa. Fez isso em duas ocasiões, uma delas por mensagem de texto e a outra, pessoalmente, durante uma cerimônia no Palácio do Planalto. 

A partir de então, Mourão começou a tratar objetivamente de seus planos eleitorais. Ele chegou, inclusive, a conversar com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos e adversário de Bolsonaro.

Apesar das divergências públicas com Bolsonaro, Mourão costuma dizer a aliados que conta com o apoio do presidente nas eleições deste ano. Uma das discordâncias recente entre os dois foi em relação ao orçamento secreto. Mourão afirmou, em novembro do ano passado, que achava “oportuna” a “intervenção” do Supremo Tribunal Federal na execução das emendas de relator.