O Estado de S. Paulo, n. 48098, 25/06/2025. Política, p. A10
Lula e aliados terão mais cadeiras ‘em risco’ no Senado em 2026
Naomi Matsui
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de garantir uma taxa maior de vitória caso queira sair de 2026 com maioria no Senado. Nas próximas eleições, cada unidade da Federação vai escolher dois senadores. Dois terços da Casa – 54 cadeiras – estarão em competição. Um levantamento do Estadão/Broadcast mostra que 52% das vagas em disputa pertencem a senadores considerados fiéis ao governo, ante 28% da oposição.
Isso representa um potencial de perda maior para o petista, em um momento em que a direita arma estratégias para avançar sobre o Senado, responsável por votar medidas como pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A contagem foi feita com base em um mapeamento de integrantes do governo. Do total de 81 senadores, Lula conta hoje com a maioria necessária para aprovar matérias de seu interesse: estima-se que o Planalto tenha 38 votos fiéis, ante 29 da oposição, encabeçada pelo expresidente Jair Bolsonaro (PL). Os outros 14 são “flutuantes”, pendem para um lado ou outro a depender do tema.
Dos 38 da ala governista, 28 estarão em fim de mandato em 2026 e podem não conseguira reeleição. Já na oposição, são 15 dos 29. Os 11 senadores restantes do total de 54 vagas a serem abertas são flutuantes – 20% do que estará em jogo.
Para obter maioria (41 votos) na chamada Casa Alta, Lula terá de eleger 31 aliados. Já a oposição precisará emplacar menos, 27. “O cenário está favorável para a direita no Senado em 2026. Fazer maioria nos ajudaria a implementar uma agenda de reformas estruturantes para o País retomar o desenvolvimento sustentá vele o crescimento ”, disse ao Estadão/ Bro ad casto líder da oposição no Senado, Rogério Marinho( P L- RN ).
MANUTENÇÃO. Atualmente, o PT estima ter de 38 a 52 votos fiéis, a depender da pauta. A ideia de governistas ouvidos pela reportagem é tentar manter um número parecido, a fim de garantir apoio a projetos prioritários de um eventual novo governo Lula e bloquear propostas da oposição, como impeachment de ministros do STF e abertura de comissões parlamentares de inquérito.
Para isso, o partido avalia priorizar o apoio a candidaturas de centro nos Estados em que não tiver nomes próprios competitivos. “A meta é manter maioria de democratas”, afirmou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
O cenário, porém, parece des
favorável à esquerda em quatro das cinco regiões do País. O PT não tem candidaturas claras em três Estados do Norte (RO, RR e TO) e há incerteza sobre o sucesso nos que têm, como no caso de Randolfe Rodrigues, no Amapá.
No Centro-Oeste, sob alta influência do agronegócio, o retrato não é muito diferente. No Distrito Federal, a direita tem três nomes considerados fortes: o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o do governador Ibaneis Rocha (MDB) e o da deputada federal Bia Kicis (PL).
Enquanto integrantes da direita não escondem a vontade de concorrer ao Senado nos Estados do Sudeste, poucos nomes da esquerda dão sinais claros. Em São Paulo, por exemplo, é o caso de Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL) e José Eduardo Cardozo (PT).
No Sul, o PT avalia lançar nomes como os da ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PR), e de Paulo Pimenta (RS). O horizonte só parece menos nublado no Nordeste, reduto eleitoral de Lula, tanto pelo número de pré-candidatos declarados quanto pela força dos nomes. Das 18 cadeiras em jogo nos Estados da região, hoje 14 são de governistas.
Bolsonaro tem dito abertamente que quer obter maioria no Senado. Apoiadores afirmam que a meta do PL é aumentar a bancada de 14 para 25, a serem somados a aliados de outros partidos. “A centro-direita quer fazer, no mínimo, 40 senadores. A ideia é apoiar um bolsonarista e um aliado por Estado”, afirmou o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Legendas de direita têm se adiantado com mais força no Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Sul, seja na quantidade de interessados, seja nas articulações. Entre as apostas, há quatro integrantes da família Bolsonaro filiados ao PL, Michelle (no DF); Flávio (no RJ), que tentaria a reeleição; Eduardo (em SP), se não puder tentar a Presidência; e Carlos (em SC), hoje vereador no Rio. Somam-se à lista nomes como Cláudio Castro (PL-RJ), Ricardo Salles (Novo-SP), Guilherme Derrite (PP-SP) e Marcel van Hattem (Novo-RS).
DÚVIDA EM SP. Como mostrou o Estadão, a eventual saída de Eduardo Bolsonaro da disputa deve embaralhar a eleição ao Senado por São Paulo. Ele é citado como possível herdeiro da vaga de candidato ao Planalto no lugar do pai, inelegível, caso o expresidente insista em eleger um familiar. Mas o próprio Eduardo pode acabar inelegível em razão do inquérito a que responde por articular sanções a autoridades brasileiras no exterior em benefício do pai.
Inicialmente, a costura da direita previa em São Paulo uma indicação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que seria Derrite, e outra de Bolsonaro, que já tinha escolhido Eduardo. Se o deputado licenciado não concorrer, outros nomes já sinalizam interesse, como Marco Feliciano (PL), Cezinha de Madureira (PSD), Lucas Bove (PL) e Mário Frias (PL).