VALOR ECONÔMICO, n 5412, 07/01/2022. Finanças, C2

Uso de criptomoedas em atividades ilícitas alcança recorde de US$ 14 bi

Eva Szalay

 

Criminosos usaram uma quantia recorde de criptomoedas para fins ilícitos em 2021, mas o crescimento dos mercados de ativos digitais como um todo superou o aumento do número de golpes. A quantidade de criptomoedas enviadas para endereços que têm ligações conhecidas com grupos criminosos disparou para um recorde de US$ 14 bilhões no ano passado, mais do que o dobro em relação a 2020, de acordo com uma pesquisa da empresa de dados Chainalysis.

Golpes, “ransomware” e roubos aumentaram 79%, em termos de dólares, no ano passado, mas o mercado como um todo teve uma expansão de 550%, com US$ 15,8 trilhões em criptomoedas negociados em 2021. Isso significa que a proporção de atividades ilícitas com relação ao total caiu para o nível mais baixo de sua história.

“As tendências anuais sugerem que... o crime está se tornando uma parte menor do ecossistema das criptomoedas”, escreveu Kim Grauer, diretor de pesquisa da Chainalysis, em seu relatório.

“Como o crescimento do uso de criptomoedas em atividades legítimas ultrapassou em muito o crescimento do uso para ações criminosas, a proporção da atividade ilícita no volume de transações com criptomoedas, de 0,15%, nunca esteve tão baixa”, acrescentou Grauer. Em seu estudo anterior, a Chainalysis estimou que 0,34% das transações com criptomoedas tinham motivações ilegítimas.

Apesar dessa tendência, os mercados de criptomoedas continuam a ser de alto risco para os investidores. Golpes que envolvem criptomoedas custaram aos investidores US$ 7,8 bilhões no total e cerca de US$ 3,2 bilhões em criptomoedas foram roubados em 2021, um aumento de 516% em relação ao ano anterior. Em janeiro, endereços ilícitos detinham mais de US$ 10 bilhões em criptomoedas, no cálculo da Chainalysis.

Os órgãos de segurança e as agências reguladoras tornaram-se mais eficientes no combate a crimes que envolvem bitcoins e outras criptomoedas, mas ainda têm dificuldades para acompanhar os novos mercados, como o de finanças descentralizadas (DeFi, sigla em inglês), que apresentam oportunidades para criminosos lavarem e roubarem dinheiro.

Mais de US$ 100 bilhões de recursos estão ligados aos mercados de DeFi, onde os algoritmos controlam todas as transações e não há interação humana entre as partes. O crescimento desse espaço no ano passado se quintuplicou e proporcionou um terreno muito propício para roubos e golpes como os “rugpulls” (puxadas de tapete), em que os golpistas convencem investidores a colocarem dinheiro em um novo token e depois desaparecem com os recursos.

No ano passado, esses golpes custaram aos investidores US$ 2,8 bilhões. O roubo também se proliferou: o equivalente a cerca de US$ 2,2 bilhões foi roubado dos espaços de DeFi, um aumento de 1.330% em relação a 2020. Um exemplo foi o uso de brechas no sistema da Polygon Network para roubar US$ 600 milhões, que depois foram devolvidos pelo hacker apelidado de Mr. White Hat.

A Elliptic, outra empresa especializada em dados sobre criptomoedas, calculou em novembro que os investidores perderam US$ 12 bilhões em recursos nos mercados de DeFi no ano passado. “À medida que a DeFi continuou a crescer, seu problema com recursos roubados também aumentou... E observamos ainda um crescimento significativo no uso de protocolos de DeFi para lavagem de recursos ilícitos”, acrescentou o relatório apresentado pela Chainalysis.

No fim de outubro passado, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) deu o primeiro passo para colocar os mercados de DeFi sob supervisão regulatória, ao traçar planos para fazer os operadores desses espaços cumprirem as normas de combate à lavagem de dinheiro.