O GLOBO, n 32.336, 17/02/2022. Política, p. 7
TSE reforça para militares segurança das urnas
Mariana Muniz e Aguirre Talento
Após Bolsonaro dizer que Forças Armadas haviam encontrado “vulnerabilidades" no sistema eleitoral, tribunal retirou sigilo das perguntas enviadas para mostrar que não havia fragilidades identificadas. Respostas reafirmaram inviolabilidade do processo
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou ontem as respostas aos questionamentos feitos pelas Forças Armadas sobre o funcionamento do sistema de votação brasileiro. A decisão de dar publicidade ao documento, que inicialmente estava sob sigilo, foi tomada pelo atual presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, em conjunto com os seus próximos sucessores no cargo, ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, para dar uma resposta às mais recentes suspeitas infundadas levantadas pelo presidente Jair Bolsonaro contra as urnas.
Durante uma transmissão ao vivo pela internet, na semana passada, o titular do Palácio do Planalto insinuou que os militares enviaram a demanda ao tribunal por supostamente terem identificado indícios de vulnerabilidade nos equipamentos, o que não é verdade. As perguntas foram elaboradas para sanar dúvidas técnicas a respeito do processo eleitoral. O TSE reiterou a segurança do sistema e respondeu a cada um dos 80 questionamentos, encaminhados à Corte pelo representante das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições, Heber Portella. Ele foi indicado ao posto pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, cotado para ser vice de Bolsonaro na disputa pela reeleição.
Ao justificar a opção dos magistrados em derrubar o sigilo que havia sido imposto no primeiro momento, Barroso afirma que as informações são de interesse público e não impactam na “segurança cibernética da Justiça Eleitoral”.
Ele salienta, porém, que dados com potencial de expor o sistema de proteção do tribunal só serão repassadas presencialmente, sob argumento de que há “maus precedentes”. O ministro se referiu ao episódio em que a Polícia Federal responsabilizou Bolsonaro por ter exibido em uma de suas “lives” documentos de uma investigação sigilosa da própria PF sobre um ataque hacker ao TSE.
“Infelizmente, há maus precedentes nessa matéria. De fato, como é público, há uma investigação policial em curso, em razão de vazamento de informação constante de processo sigiloso, atribuído ao excelentíssimo senhor presidente da República”, escreveu Barroso.
O material divulgado ontem tem pouco mais de 700 páginas. Em uma das respostas, o TSE detalha, por exemplo, como as urnas eletrônicas são lacradas, em outra explica de que forma o sistema faz uma dupla verificação capaz de flagrar se os votos de uma urna não forem contabilizados, e ainda esclarece que as urnas só podem ser acessadas por dispositivos previamente reconhecidos, entre outras questões.
AJUDANTE DE ORDENS
A investida de Bolsonaro que encorajou o TSE a divulgar as respostas ocorreu na quinta-feira da semana passada. Ele afirmou que as Forças Armadas identificaram vulnerabilidades no processo eleitoral. Em entrevista ao GLOBO, Barroso rebateu as insinuações feitas pelo presidente:
—Foram feitas algumas perguntas e, antes de ter recebido as respostas, Bolso na rojá disse que tem vulnerabilidades.(...) Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta.
Ontem, em entrevista à “Jovem Pan”, Bolsonaro voltou a criticar o ministro Alexandre de Moares e questionou a decisão do magistrado de quebrar o sigilo do seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid, suspeito de ter participado do vazamento, numa live do presidente, da investigação sigilo sada PF sobre um ataque hacker ao TSE.
— Entendo que a quebra de sigilo do meu ajudante de ordens por parte do senhor Alexandre de Moraes foi para ter acesso às informações que eu tenho — disse. — Lamentável que isso esteja na mão dele, usando, no meu entender, um subterfúgio para chegar à minha pessoa.