VALOR ECONÔMICO, n 5412, 07/01/2022. Agronegócios, B10
Ministério vê seca mais forte
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Bastos, diz que a estiagem na região Centro-Sul do país já é mais intensa e deverá tem mais impacto sobre a produção agropecuária do que aqueles ocorridos na temporada passada, quando episódio semelhante de falta de chuvas impediu números melhores nas colheitas de soja e milho.
“A estiagem é bem mais forte e os impactos serão piores que no ano passado”, disse o secretário ao Valor. A avaliação é que o milho verão foi mais afetado na safra passada e que o problema agora está mais concentrado e sem capacidade de plena recuperação na soja. “As chuvas previstas para janeiro provavelmente não serão suficientes para poder atenuar essa quebra”, relatou.
As perdas no milho primeira safra devem ser compensadas pelo aumento de área plantada, motivado pelos bons preços do cereal. Na soja, a boa condição das lavouras no Centro-Oeste e Matopiba pode compensar parte das baixas. O que pode atrapalhar o desempenho e produtividade nessas regiões é a falta de luminosidade devido às chuvas e grande número de dias consecutivos nublados.
Ainda podemos ter uma safra maior que a passada se o restante do país performar bem, pois foi plantada com muita tecnologia e está bem respaldada. É o que pode aliviar essa queda”, destacou. Segundo ele, havia potencial para colheita de até 150 milhões de toneladas de soja na safra 2021/22.
Bastos disse que o levantamento de janeiro da safra de grãos da Conab ainda foi feito “sem a expressão máxima do problema”, devido à deterioração mais forte que houve nas condições das lavouras nos últimos dias. O secretário confirmou que uma comitiva de Brasília, com a presença da ministra Tereza Cristina e integrantes do Banco Central e Ministério da Economia, irá visitar os quatro Estados mais afetados na próxima semana. “Qualquer solução mais ampla que a gente precise tomar eles precisam estar cientes”, afirmou. O roteiro inclui visitas a propriedades nas regiões de Passo Fundo (RS), Chapecó (SC), Cascavel (PR) e Dourados (MS).
Reuniões diárias têm sido feitas em Brasília e por videoconferência para avaliar a situação, levantar números e planejar ações. Nesta sexta-feira, a equipe técnica do governo vai se reunir com as companhias que atuam com seguro rural e as instituições financeiras. Um dos focos é avaliar a capacidade de pagamento dos produtores afetados e a necessidade de uma renegociação mais ampla, principalmente das operações com juros equalizados, que são mais restritas.
Os ministérios ainda não bateram o martelo sobre a concessão de crédito emergencial ou o alongamento de dívidas e parcelas de financiamentos, o que dependerá de levantamentos mais apurados dos prejuízos no campo. O “conforto” é que grande parte dos produtores tem cobertura de seguro rural e Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) ou já está amparada pelo Manual de Crédito Rural para fazer renegociações.
A nova ocorrência de seca no país deve estimular medidas estruturais na política agrícola. Uma delas é ampliar a obrigatoriedade de contratação de seguro rural ou Proagro. Hoje, financiamentos de custeio do Pronaf e Pronamp de até R$ 350 mil precisam ser acompanhados de algum instrumento de mitigação de risco. Uma fonte do governo afirmou que os acionamentos de Proagro na região Noroeste do Rio Grande do Sul já somam cerca de R$ 600 milhões.